Triste Sina

 
Motivos pra fazer a gente sentir tristeza não nos faltam, mas algumas vezes o motivo específico nos atinge como um soco no estômago, sou prova viva que soco no estômago dói pra caramba.
 
Semana passada ao sair de casa para o café matinal na padaria habitual dei de cara com a lua matinal as sete horas e uns minutos, voltei pra casa e peguei câmera para prender a "alma" da decresceste bela lua. Não seriam minhas primeiras fotos da lua emoldurada por magnífico céu azul.
 
Parei junto a um poste, sem encostar nele pra não sujar minha camisa branca, minha calça branca e meu sapatênis branco. Colei a máquina no rosto ajustei o zoom e fiz meia dúzia de fotos sempre ajustando o zoom. A máquina digital tem display mas também tem visor para o olho, identifico aos das máquinas sem display, com a vantagem do zoom no pequeno visor.
 
Ao termino dos apertos no botão de disparo fiquei surpreso com quatro crianças na minha frente olhando pra mim, alunos do primeiro grau na escola municipal próxima. Três meninos e uma menina.

A menina perguntou:
- O que o senhor está fazendo?
- Estou fotografando a lua
- Por que?
- Porque eu acho a lua muito bonita, você não acha?
 
Ela nada mais disse, apenas sorriu. Mas percebi que ela não viu sentido algum na coisa em si. Ao colocar a câmera na minha bolsa percebi que nela estava o sino que a mãe da minha filha trouxe de presente pra mim lá da Suíça ano passado, ou no anterior. Não sei porque motivo peguei o sino e dei para a menina, e disse: - Pra você enfeitar seu quarto.
 
Sem mais delongas segui para a padaria com todas as peças brancas do meu vestuário intactas. Hoje de manhã mais ou menos na mesma hora daquele dia parei junto ao mesmo poste esperando o sinal ficar verde para atravessar a rua e ir ao café matinal na padaria habitual. Ouvi um menino falar:

- Moço sabe o sino que o senhor deu pra-quela menina ela jogou no lixo ela disse que o senhor é macumbeiro.
A dor na boca do estômago não me atacou pelo fato dela ter jogado o sino no lixo, mas pelo motivo. Triste sina daquela criança menina, tão menina ainda e trilhando o caminho da intolerância religiosa.

O inocente sino vítima da intolerância religiosa é idêntico ao da foto.

Quem conduz a menina nesse caminho? Eu sei quem e o que, mas vou parar por aqui.
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 18/09/2017
Reeditado em 18/09/2017
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