OCASO FAMILIAR

Uma inexplicável circunstância existencial sempre é observada na vida de uma família, especificamente a relação marido e mulher. Começam as paqueras, os flertes ficam mais evidentes, e tudo vai se fortalecendo de ambas as partes e, o inevitável acontece.  O amor toma as rédeas da situação, colorindo cada momento vivenciado e compartilhado, culminando com o enlace matrimonial.

O tempo passa, e os rebentos dessa união harmoniosa e intensa, vão formando uma abençoada prole, iluminando o lar e a todos que dividem esse espaço de amor, sendo a família uma importante e indispensável instituição da sociedade e desejada e abençoada pelo Criador.

Os anos têm a incumbência de trazer a valiosa experiência de vida a cada um dos cônjuges e também permitir o tingir dos cabelos pela névoa branca da maturidade. Família criada. Filhos dos seus filhos que agora alegram o lar doce lar de bravos e destemidos guerreiros que não fugiram da luta e defenderam com altivez paterna e materna os seus descendentes.

Já no limiar da velhice, os desejos já não são mais os mesmos de outrora, apenas prevalece o desejo de uma companhia diária, de curtir os netos, de rememorar os momentos de aventura e que foram herois um para o outro e para si mesmo, de ouvir uma melodia suave dos seus ídolos, a maioria deles, apenas em boas lembranças, de sentar na cadeira de balanço na varanda de casa, com pisos de tacos, de onde contempla o pomar, o jardim em flor e o pôr-do-sol com seus raios avermelhados e românticos.

O amor que impulsionara a buscar a sua cara metade, ainda que trôpego e na penumbra, está ali do lado como referência e reverência, a audição já bastante limitada, mas o que conta agora é o sentimento profundo que reside nos sensíveis corações.
O ocaso se aproxima. Quem vai embora primeiro? Quem fica na saudade?  Perguntas que intrigam os casais, que na verdade não querem ser interrogados a esse respeito. 

Todo fim deixa marcas profundas. Quer seja a dissolução, porque o amor já não é mais suficiente para satisfazer o cônjuge, ou fatalmente pela morte física, certamente a mais triste de todas as vivenciadas, pois não deixa aberta a possibilidade da reconciliação no plano humano, somente em Deus.  


E concluindo essa reflexão, vale dizer que a vida é bela, partilhar e compartilhar o amor é missão de todos nós, e para os casais, a responsabilidade maior ainda, pois é de um lar abençoado que nascem as autoridades e lideranças de uma sociedade. 

Fica a citação do nosso padre e cantor, pe. ZEZINHO, SCJ. “AMOR que é AMOR nunca morre, me disse um amigo, e pra sempre eu guardei a lembrança do que ele falou, e vendo os problemas do mundo, eu pensava comigo: É gente que errou na procura e se decepcionou.”    

 
Bonfinópolis de Minas – MG, 16 de setembro de 2017.


 


Nota do autor:

Texto escrito a bordo do veículo do amigo Josilton Palma Bezerra (Joca), na Rodovia Deputado Dalton Canabrava, ou simplesmente MG 181, em Agosto de 2017, quando retornava de João Pinheiro - MG, onde presenciei uma dessas despedidas definitivas. Dedico com todo o respeito à dona Valdete Teodoro e seus filhos Ismael, Misael, Gesiel.

 

In memorian ao Sr. Lucas Rocha e as filhas Joelma e Débora.   

 

Foto: Arquivo pessoal do autor, um fim de tarde na casa da sua saudosa mãe Maria de Lourdes Souza.

POETA NUNES DE SOUZA
Enviado por POETA NUNES DE SOUZA em 16/09/2017
Reeditado em 10/03/2023
Código do texto: T6116067
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