SAUDADES DA DONA INAH.

Foi lá,nos fins dos anos 80 e começo dos 90 que íamos com dona Inah para a saudosa Cananeia,litoral sul de SP. Sempre chove em Cananeia,Aquela chuvinha miúda que incomoda bastante. Mas aquela terra é abençoada. Seu povo simples e humilde fazia daquela cidade uma benção diviina. E curtíamos cada momento escondidos da chuvinha.Era o papo lá na cozinha. Regado a cerveja,é claro. Os netos cde dona Inah alvoroçavam tudo. Não havia a transmissão da Globo para a região.É claro. A Globo não gasta dinheiro com pobres. Como opção televisiva havia apenas a Cultura.

E o prefeito da cidade,à época,resolveu montar uma grande antena para captar os sinais da Globo. Cultura não é importante para o Povo.É preciso lavagem global. E assim foi. Da pacata cidade bucólica ,Cananeia se transformou num movimentado porto de pesca. Principalmente camarão.E a Saudade das nossas tertúlias em noites frias ainda vibram na gente. Após o netos dormirem,ficávamos lá no frio da cozinha a discursar sobre obras e autores,Principalmente,Guimarães Rosa. O Grande Sertão e A Hora E A Vez De Augusto Matraga. E cigarros mil e muita cerveja . Um peixe assado na madrugada dava motivos para continuar o papo agradável. Dona Inah tinha uma brilhante memória e cultura singular. Conversávamos sobre qualquer assunto. Gostoso mesmo. Por onde andará dona Inah neste universo sem fim? Por onde andarão nossas conversas agradáveis sem fim? O Mundo é mesmo um Moinho,como dizia Cartola. E nossos sonhos tão mesquinhos serão triturados pelo Tempo. Ô Saudade que doí!!! Talvez,dona Inah esteja em tertúlias mil com Guimarães Rosa e Drumonnd e Fernando Pessoa lá naqueles espaços grandiosos do Infinito.

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 08/09/2017
Reeditado em 08/09/2017
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