Amar se aprende amando

Eu vejo corações secos. Vejo confusão mental. Vejo uma lei comportamental ditar passos que, em tantos casos levam à decepção. Coragem para virar mais uma dose sozinho e beijar a primeira boca que lhe parecer atraente, covardia para lembrar que tem um coração, e mais covardia ainda, para lembrar que este coração pode ser fiel à outro. Mas não chame de covardia. Chame de liberdade, conquistada no desapego total. Vejo desespero para preencher um vazio que grita a falta de alguém especial, mas que usa como desculpa o “eu não sei amar”, que usa como tentativa de preenchimento, o ato de sair com uma pessoa por dia, trocando ilusões, enquanto um sonho permanece no peito e no travesseiro: ter alguém especial para dividir a vida.

A verdade que todo mundo ignora, ou simplesmente nunca ouviu, é que “amar”, se aprende (vejam só!) amando. Essa coisa louca, que parece uma escadaria muito alta, íngreme e cansativa, que leva à um jardim estonteante com vista privilegiada, necessita de pequenos primeiros passos, de se atrever à apegar-se em alguém que faz o mundo ao redor desacelerar, enquanto traz paz para o peito da gente. Sabe, é preciso virar uma dose de coragem, e confiar em segurar a mão de alguém, sem medo do incerto, porque sim, há a possibilidade da decepção logo ali, virando a esquina... Mas também há possibilidade de uma felicidade eufórica que traz sentido às demais coisas dessa vida, logo ali, entrando por aquela porta.

Amar se aprende amando, se aprende não desistindo no primeiro percalço, se aprende perdoando as falhas, se aprende no diálogo compreensivo, na parceria diária, no “bom dia”, no “você chegou bem em casa?” ou no simples perguntar “como foi o teu dia?”, na conversa muda, por olhares que quase gritam. Amar se aprende na escolha constante pela sinceridade, no atrever-se à fazer um plano juntos, mesmo que seja algo pequeno, ver que isto é saudável, fazer mais um, ver que isto pode dar certo, e fazer mais outro, pelo simples prazer de permitir que o outro participe da vida da gente. Amar se aprende abrindo mão de algumas coisas que a gente costumava fazer no singular, para substituir por coisas plurais, pois trata-se da vontade de permanecer caminhando de mãos dadas. Amar se aprende amando, meu bem, e esta empreitada só é cansativa se a gente não estiver com o coração disposto, se a gente não despir o egoísmo da alma, a incompreensão da mente e o desespero do espírito. E é “empreitada”, pois se está construindo junto.

Amar se aprende amando, meu bem, e esta empreitada só faz sentido se a gente dividi-la com alguém que nos faça sentir que finalmente encontrou aquilo que estava procurando, alguém que nos faça pensar “COMO EU TE QUERO!”, alguém cuja presença nos deixe à vontade para ser quem é, alguém que tenha princípios e propósitos semelhantes aos nossos, porque temperamento, jeito de ser, cada um tem o seu, e um pode ser complementar ao outro, sabe? É o tipo de coisa que se ajeita. Mas princípios e propósitos... estes são intrínsecos à alma da gente, à nossa criação, às nossas projeções. Se há algo importante, são os princípios e propósitos de vida. Estes não se confundem, são pilares do ser, sustentação de uma existência inteira. E é isto que O Amor une. É isto que faz uma existência ser grata à outra, que está entrelaçada à sua.

Amar se aprende amando, meu bem, se aprende entrelaçando uma existência à tua, e entrelaçando a tua existência à esta mesma que se atrelou ao teu ser. Em meio ao respeito, pelo outro e pelo laço, enquanto sente o coração sorrir ao se dedicar à outro coração, que o faz bater de forma tão bonita e pacífica!

Amar se aprende amando, meu bem! Se aprende pondo os escudos em desuso, deletando as estratégias de ilusão, ignorando outras vozes que também lhe pareçam atraentes, por mais difícil que este último ato possa ser, em alguns momentos. E não serão poucos momentos, então também se aprende a amar no ato de escolher.

Então, leitor, se quer um conselho, o meu é este: Se apega, sim! Dá um descanso para o Tinder, para o Happn, para os contatinhos, e tenta dar uma chance para o amor, já que todo mundo sabe que você voltou meio arrebatado da noite passada. Vire logo esta dose de coragem e ouse confiar em segurar a mão de alguém, sem medo do incerto, porque sim, há a possibilidade da decepção logo ali, virando a esquina... Mas também há possibilidade de uma felicidade euforicamente pacífica e certa, que traz sentido às demais coisas dessa vida, logo ali, entrando por aquela porta. Amar, se aprende amando, já falei. E você não vai saber se não tentar, se não der o primeiro passo, se não continuar a subir os degraus.

Débora Cervelatti Oliveira
Enviado por Débora Cervelatti Oliveira em 30/08/2017
Código do texto: T6099630
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