Precisamos falar sobre "fidelidade"

Ao abrirmos o dicionário e procurarmos a definição da palavra “fidelidade”, lemos que ela é “característica do que é fiel, do que demonstra zelo, respeito por alguém ou algo; lealdade; constância nos compromissos assumidos com outrem; constância de hábitos, de atitudes; compromisso rigoroso”. Mas e a prática dessa coisa toda? Como é que a gente faz, nesta época em que, em dez minutos e poucos cliques ou toques na tela do celular, a gente encontra pelo menos cinco pessoas novas pra fazer o que quiser? A famosa traição se configura apenas no ato do toque? São tantas dúvidas que a gente chega a se sentir confuso, né? Eu sei… Mas manter a saúde do relacionamento não é difícil, apesar de se exigir esforço, porque o amor que a gente sente pelo outro, ajuda a gente a se manter firme.

Talvez a gente nunca tenha se aquietado por uns segundos para pensar que “fidelidade” envolve “demonstrar zelo por alguém”, não é? Mas envolve, porque a partir do momento em que nós nos comprometemos com uma pessoa, temos o dever implícito de cuidá-la, afinal, querer bem a pessoa amada, faz parte de um dos efeitos do amor, por mais egoísta que a gente seja. Porque amar o outro é isto: é inseri-lo em sua lista de prioridades, dizer “bom dia” e “boa noite”, estar atento às suas necessidades, ao seu estado de espírito e humor, é ouvir todos os seus segredos, anseios, traumas, medos, compreender esta pessoa que sempre foi parte da sua essência sem que você soubesse, e agora, chegou em sua vida. Amar é crescer e construir ao lado de alguém que, por algum motivo, desperta o melhor de nós. Mas como crescer e construir ao lado de alguém que a gente não cuida, não zela, não ouve, não dedica tempo, paciência, compreensão, e amor, mas ao invés disso, dedica apenas o nosso tesão e a vontade de beijar a boca? Sabe, fazer isso é o mesmo que construir um prédio com material podre: está fadado à ruir. O amor não sobrevive apenas de beijos na boca e toques feitos de fogueira que se mantém acesa com querosene… Isto é consequência, é “bônus”. O amor vive e cresce através da forma de se relacionar, e é por isso que o zelo é tão importante, e deve partir de ambos os lados, porque não é apenas o outro que precisa de cuidados e atenção… a gente precisa também. E como precisa. E quando não tem, o amor se torna cansado, se vê entristecido e muito magoado, porque por mais que, ao amar o outro, o doar-se seja sem expectativa, todos possuem a necessidade do básico ser cuidado e amado, de saber que o outro pensou em você no meio do seu dia tão atarefado, de saber que apesar do tempo escasso do outro, sempre há uma maneira de encontrar tempo para você, porque você é importante; E isto não quer dizer que estejamos tratando de pessoas carentes ou imaturas, mas apenas de seres humanos normais, com sentimentos, emoções… assim como nós. É sempre válido colocar em prática o exercício de pensar, por um minuto: eu gosto de me sentir cuidado pelo outro? Eu gosto de receber atenção do outro? Eu gosto que o outro tenha tempo para mim? E por quê eu não estou fazendo isto por ele também? Amor é dar e receber, é via de mão dupla.

“Fidelidade” é respeito por alguém, e para respeitar o outro, eu preciso, primeiro, saber qual é o meu caráter. “O quê?”, SIM! Porque caráter, é aquilo que eu sou quando ninguém está olhando. Eu posso ser vestida de bondade para todas as pessoas, mas quem eu sou quando sei que estou sozinha, que ninguém pode me ver? É neste ponto que eu descubro o meu caráter. E quem você é longe da pessoa que você ama e tem um relacionamento? Quem é você, quando esta pessoa não pode te ver ou te ouvir? Se é um relacionamento à distancia (não importa qual seja ela), quem é você quando não está conversando com esta pessoa, quando não estão em uma videochamada ou algo semelhante, você é capaz de lhe dizer a verdade absoluta, ou a distância é o tapete para onde você varre a sua sujeira? Caráter, leitor, é “sim” ou “não”. Recentemente um leitor me perguntou “é errado eu namorar e continuar usando Tinder e outros aplicativos parecidos?”, e a minha resposta foi “se você precisa me perguntar se é errado ou não, então você já tem a sua resposta”. Ele se assustou com a minha fala, mas a verdade, é que ele apenas queria que eu não reprovasse a sua conduta. A não ser que você e a pessoa com quem você se relaciona, decidirem (JUNTOS) manter um relacionamento aberto, não é de bom tom que o uso de aplicativos de paquera continue, pois todos eles possuem o intuito de encontrar alguém, seja para ter um relacionamento sério ou para conseguir uma diversão para uma ou algumas noites. Veja bem, se você já encontrou alguém para si, qual é a necessidade de continuar procurando? Qual é a necessidade de seguir aqueles perfis que divulgam pessoas bonitas para você seguir ou adicionar (esta é uma das maiores reclamações dos leitores, tanto do sexo feminino quanto masculino), e efetivamente sair seguindo os caras que você achou maravilhosos, as moças que você achou atraentes, e, dando o nome certo aos bois, as pessoas que você olhou e pensou “nossa, que gostosa (o)!”?? Quando você age desta forma, está deixando de respeitar a pessoa que você diz amar, pois há malícia nos teus olhos. E não venha me dizer que o uso do tais “aplicativos”, é para fazer amizades novas, pois você sabe muito bem, lá no fundo da sua alma, que você não usa com este intuito. A lealdade não deve estar apenas nas suas atitudes públicas, mas também nas suas atitudes secretas, nos teus olhos… Quão leais os teus olhos têm sido à pessoa que você ama? Quão leais as tuas atitudes secretas têm sido à pessoa com quem você se relaciona? E os teus ouvidos? Quão leais eles têm sido? Hoje, já se considera discutível a “traição online”, através de conversas com quem, você sabe, não deveria estar conversando, muito menos acerca de determinados assuntos. Isto não é lealdade com você ama. Isto não é “compromisso rigoroso”. Esta questão é muito mais delicada do que parece, e muito mais profunda do que nós podemos ver.

Não, a traição não se configura apenas no ato do toque. Esta, é apenas a consumação. Para chegar até o toque, trilhou-se um caminho. Deixou-se a lealdade de lado no exato momento em que despertou-se o interesse por outra pessoa. Este interesse pode ter simplesmente surgido, mas ele pode ter nascido de uma provocação vinda da outra pessoa, e não freado como deveria, não foi impedido, como deveria ter sido. Neste momento, você já traiu a pessoa que você ama, porque você se permitiu ser envolvido por outro alguém. A simples cogitação de estar com outra pessoa, já é uma traição. Porque você cogitou, e no momento desta cogitação, você não levou em consideração o seu relacionamento. E mais do que trair a pessoa que você namora ou é casado, você traiu a si mesmo, traiu os seus sentimentos, mentiu para si dizendo “tudo bem, isso não quer dizer nada”. A nossa mente é poderosa demais para dizer que uma cogitação feita por ela “não quer dizer nada”. É nesta parte que o caráter deveria ter entrado, mas não o fez, por ser extremamente falho e corrompido. De que é feita a realidade, se não de uma imitação de sonhos e pensamentos? Faz-se aquilo que se pensa. Trair o outro é colocar uma lança no meio do peito do amor.

A tal “constância de hábitos, de atitudes”, está na lealdade e no ato de cuidar e se fazer presente. Esta é a real fidelidade ao amor. O segredo está no relacionar-se, e manter o amor sempre bem vivo e animado, ao invés de fazer com que ele se sinta cansado. O segredo está em manter o seu coração, os seus olhos e os seus ouvidos, leais à pessoa que se ama. Honrar o amor e a pessoa amada, em um “compromisso rigoroso”, mas não pesaroso. O amor, em si, é doce, mas o amar precisa ser adoçado, e temperado. Não se esqueça do que é importante. Se faça presente. O amor vale todas as penas do mundo inteiro.

Não se esqueça.

Débora Cervelatti Oliveira
Enviado por Débora Cervelatti Oliveira em 22/08/2017
Código do texto: T6091898
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.