Amar o mar
Era uma praia calma, tão quanto minha insignificante vida...
Mas foi aí que as coisas mudaram instantaneamente.
Uma força súbita se agarrou aos pés e puxou-me em direção ao fundo...
Não acreditei a princípio que ia ceder para o mar que nutria enorme respeito, pois nadava desde pequeno.
Inacreditávelmente, simples e mortal, tinha sido sugado por uma onda em direção a uma fenda logo após escorregar num vão da pedra.
Vi uma uma luz brilhante na água acima de mim e só então me dei conta que já estava profundo e me afogando.
Pensei ter visto uma sombra negra me empurrando para baixo...
Sem poder respirar, refleti num estalo como a vida é frágil... nunca me importei com nada e agora surge um recorte na minha frente, uma imagem firme e perfeita: Não abracei meus filhos...e do meus irmãos e amigos não me despedi... e minha mãe... provavelmente ainda está lá insistindo que eu pegue a toalha... Não a beijei...
Um pavor e náuseas... a água salgada rasgou-me por dentro. Ia desmaiar quando soltei o corpo e esbarrei numa espécie de alga que me enlaçou..
Um chão de areia tocou meus pés e instintivamente impulsionei-me com as forças que me restaram. Uma lufada fresca de ar invadiu meus pulmões com violência me devolvendo a vida. Passou-se um século até alcançar a margem...
Entorpecido e exausto me arrastei na areia.. olhei em volta.. ninguém.. praia deserta. Pensei em chorar mas avaliei a situação... Teria morrido? Ou estaria vivo?
Se estivesse, começaria uma lista de afazeres imediatamente...a começar por beijar minha mãe e pegar a toalha que tinha deixado na mão dela para o banho.