TEU PASSAR.

Meus olhos continuam a enganarem-me pelas ruas quando vejo em outro corpo teus trejeitos de andar, de se virar e lançar seu olhar altivo alcançando um universo ao seu redor, fechando ainda mais esse espaço, quando você deixa levemente cair à cabeça e suas pálpebras superiores baixam harmoniosamente. Num olhar conspirador... Transitório da razão para a emoção.

Hoje, vestes tecidos leves, coloridos ou opacos para desenharem a elegância no movimentar com seu andar. É aquela peça única, que te distinguiria de todos no paraíso terreal, o Éden. Quem tivesse como habito o bote, perderia fatalmente de você.

Lembra-te de qual seja? O de modelo longo e serpenteante. Ele tem o poder de transmudá-la para dentro de qualquer mente e desnorteá-la, de colocá-la em qualquer coração, e agitá-lo, de ferver o sangue dentro dos tubos condutores do corpo humano, de acelerar o bombeamento desse líquido rubi e deixar todo corpo quente, querendo se projetar do todo para alcançá-la. De tornar qualquer humano, vesuviano.

Vagueio em busca de identificar sua forma sob as flores deste jardim que estais. Vejo você entre as flores, não tenho duvida que seja você movimentando-se num balanço flutuante no florão, como em nuvem sob o céu azul, despertando um forte motivo de tato em qualquer instinto sedutor. Todas me enganam. Conspiram contra meu olhar. Camufla-lhe das minhas pupilas que tentam te encontrarem.

Não consigo dizer tudo que sinto, tartamudeio, busco ver sob essas flores, você. Sei que estais ai... Pois teus movimentos, teu fetiche engessam minha razão, minha liberdade de decidir, fico dependendo de dobrares na esquina ou de entrares em alguma porta, para que eu possa prosseguir. Tropeço no querer. Fico retido ao “sem saber”.

Não interessa sob que luz estas, do sol ou da lua, este teu jardim amostrará você sempre que tiveres nele. Qualquer filete de esperança o clareará.

Presumo que nunca te verei sob chuva!...Partes de meus sonhos se realizariam, deixaria de continuar esperar uma surpresa, que outro não mais precisa esperar, pois esta espera pode já ter se concretizado, por ter sido possíveis e não mais futura, como em mim, são possíveis e futuras, continuando sendo idéias a deriva, num mar de esperança.

Descubro, inevitavelmente, que neste contesto não somos de lugar algum, nem me sinto em algum lugar concreto, por só a fantasia ser este lugar.

Calam-me logo todas as pretensões humanas, emudecem arbítrios e decisões fáceis de escrever, porém impossíveis de executar, começo a perceber estar desenganado pelo destino, me convenço disso, pelas evidencias que os meus olhos apresentam.

Passo a fugitivo sem fugir, pois antes de eu poder algo, fugia você do meu olhar, para dobrar ou entrar em qualquer lugar.

Foi muito bom sentir novamente e tremor do choque de uma paixão, é sensacional o sentimento de adolescência na experiência de anos, o utópico fica mais real e o real mais saudoso, o ruim é ter que avaliar distâncias do lançamento que a razão nos impõe. Esta operação sempre trás perdas para quem gosta de ter os olhos bem abertos. Assim os olhos inutilizam a primeira oferta ao celebro quando você passa. Vislumbro o fim de algo sem começo nem meio, mas certo que terá fim.

DOMINGOS INÁCIO
Enviado por DOMINGOS INÁCIO em 16/08/2017
Código do texto: T6085880
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