Ensaio Sobre o Existir - II

Uma das poucas coisas que aprecio no existir é que ele não depende somente do respirar ou do sangue que corre por nossas veias. Existir é o pré e o pós. É sentir mesmo que não deseje. É estar sujeito; ser o próprio sujeito.

Mas há algo que interrompe esse meu modo de existir. Quando estou com toda essa gente, eu não sinto. Não consigo seque capitar um tom que antes me era visível. Dá-se em mim a suspensão do agir. Meu coração ainda bate, meu organismo continua a prosseguir com todas as suas reações de sempre, pois ele não depende do existir. Enquanto que do meu íntimo, nada resta. Sou apenas corpo. Não sinto, portanto, não existo. Não existo, portanto, não ajo.

Para que esse estado que me é tão desconfortante ocupe todo o espaço do meu existir, basta que eu ouça um único vozear. Nesse momento, meu sentir verdadeiro é suprimido, com ele, minha existência se transforma em mero figurante, que passa despercebido diante de mim. Mas há algo ainda pior. Caso eu me deixe entorpecer pelo ritmo frenético que apareceu subitamente, logo posso estar vozeando como eles.

Não posso ceder. Em primeiro lugar devo presentear sempre a minha solidão. Não! Nego lhe dar minha companhia hoje. Sabe bem que não precisa de fato dela; sabe que teu pedido é egoísta, a gênese dele configura a ti próprio. Portanto, não me peça para abandonar a minha solitude. Hoje tenho um compromisso comigo mesma.

Assim, a solidão não é em sua forma pejorativa. É só nela que de fato paramos para apreciar a nossa existência. Ela nos carrega para longe do vozear, para onde só há o silêncio. É nessa quietude que o nosso sentir nos conta o que se passa, as sensações tornam-se reluzentes, após tanto tempo ocultas pela inquietude.

Unicamente com a tua companhia, existes.