Em fim!

O mundo prosseguirá. Com os mesmos tons berrantes que se destacam em meio ao cinza do concreto urbano. Amanhã meus olhos se fecharam e o sono do infinito me conduzirá a um universo novo, sem dor, sem ódio, sem mágoas.

Os minutos que me restam eu me dedico a escrever... A gravar minhas companheiras no papel. Passo junto delas esses meus últimos instantes de aflição. Elas, minhas conselheiras, minhas secreções de loucuras: Palavras!

As estrelas ainda brilham forte, mas daqui a pouco tempo virá a aparecer os primeiros (e meus últimos) raios de sol nessa negra manhã. Continuo lucida e consciente, assim como os suicidas. Morro aos poucos de saudade do carinho de um homem, bem conhecido pelo meu corpo, que me fez sorrir mesmo que com mentiras.

A cama, vazia ao meu lado, a partir de agora sentirá o frio eterno da solidão. Não se acenderá mais aqui o fogo da paixão, o calor dos corpos que um dia aqueceu essa cama, fria e pura cama.

Aquele homem que tanto me fez sorrir, mas que de saudade me faz chorar, voltará amanhã. Infelizmente tarde demais pra me dar uma alegria final. Não haverá ninguém capaz de lhe consolar essa inestimável perda.

Enfraqueço agora mais do que nunca, assim como a luz do luar, que desaparece rapidamente deixando o astro rei em seu lugar. Será que alguém tomará o meu lugar também? Será que o coração do meu homem será dominado pelo calor de um outro alguém? Morro assim nessa angústia de quem deixa esse mundo com a sensação de não ter cumprido sua missão. De não ter feito quem amo completamente feliz.