Quietação

Descobri o que me enterrava, era o vozear em alto tom.

Há os barulhos naturais, o chacoalhar das folhas, o choro de um bebê ao nascer e o riacho correndo ao fundo. Eles não me incomodam, são o que resta da beleza que do mundo.

Mas há o ruído estridente produzido pelos outros. Os gritos, os sobressaltos, os barulhos artificiais que não me ensurdecem, mas me fazem tortura maior. Esconder minhas orelhas não basta, aquilo que é falso sempre vence; o fabricado atravessa a minha pele e joga seu ausente silêncio.

Passei a crer que odiava as pessoas; mas não eram elas, eram seu berrar. Havia o grito belo e poético. O que elas tinham, no entanto, era fabricado. Produto de uma massa que não grita o que é belo; seu berrar pretende unicamente se sobressair. O que faz fama não necessita de possuir beleza. Os sussurros belos, que têm tanto para dizer, são massacrados pelo gritar.

Gritam porque querem abafar as belas melodias que ainda restam, urram uns para os outros porque preferem brigar por uma posição de destaque em um ambiente desprezível. Efemeridade é tudo o que conseguem.

Gritaria, gritaria. É a totalidade do que têm para oferecer. Sem isso, seu vazio os consumiria. O falatório sem fim os enche de si mesmo; da própria futilidade que os corroeria caso se calassem.

Enquanto tento fugir dos zunidos que me enlouquecem, em silêncio, dou murmúrios, eles são meus gritos.