Para minha avó

Hoje, dizem, é dia dos avós. Os meus avós paternos viviam em Portugal. Ambos já faleceram. Só os vi uma vez na vida, quando tinha 12 anos, mas sempre ouvi as histórias que meu pai contava sobre eles.

Meu avô materno faleceu quando eu tinha, aproximadamente, 6 anos. Tenho poucas lembranças dele e não entendia muito bem o que estava acontecendo. Mas lembro que, chegando à casa da minha avó, depois do acontecido, ela estava cozinhando algo, mexendo uma panela no fogão. Quando me viu, largou a panela, me abraçou e chorou. Isso nunca saiu da minha memória.

Eu era a neta mais velha (primeira menina, pois tenho um primo que foi o primeiro neto dela) e sentia que ela sempre gostou muito de mim. Quando eu fiz 15 anos, estava feliz, entrei na igreja, "debutei", como era costume na época, saí sorrindo e as pessoas todas vieram me abraçar. Quando vovó me abraçou, eu não consegui segurar as lágrimas. O mesmo aconteceu no meu casamento. A gente tinha um laço especial...

Sempre foi muito dócil e meiga. Uma mulher que marcou minha vida, que me ensinou muita coisa, mesmo sem ter a intenção. Uma mulher que me amou muito, em cuja casa eu fui feliz demais! Adorava sua comida, seus bolos, o cheirinho do chão recém-encerado. Minha memória olfativa sempre associa minha avó ao cheiro de café torrado, pois ela morava ao lado da fábrica de café Moinho de Ouro. É um cheiro que evoca muitas lembranças doces...

Para mim, aquela mulher que ia à missa todos os dias, que usava os poucos cabelos presos em um coque na nuca, que usava vestidos floridos e sempre abaixo dos joelhos, de fala mansa e tom de voz baixinho, que mal se ouvia, era a minha avó. Simples assim. Eu nunca vi a mulher por trás da avó. Hoje, lamento nunca ter conversado com ela sobre sua vida, que é um mistério para mim. Amou meu avô ou foi um casamento arranjado? Foi pobre, passou por uma guerra com 6 filhos pequenos, sempre cuidando da casa. Foi feliz? Tinha sonhos? Nunca soube... Quem sabe, um dia, a gente se encontre de novo e ela me conte...

No final da vida, sua memória já não era mais a mesma e ela trocava meu nome pelo das filhas, das outras netas... Já não conseguia ir à missa todos os dias, mas via o programa do Padre Marcelo Rossi na TV e jurava que ele conversava com ela. Sim, sua mente se perdeu um pouco. Mas a doçura e a suavidade permaneceram intocáveis até o fim.

Sua bênção, vó! Te amo eternamente!

(em homenagem a Maria Francisca de Mattos)
Rosa Pinho
Enviado por Rosa Pinho em 26/07/2017
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