Pepito, filho de cominista do sertão

Li, reli e treli a crônica antológica do nosso espanhol-brasileiro predileto, Dom Aragón Guerrero, "Um Comunista?". Nla ele com seu estilo arretado conta que quando menino andou indagando sobre uma palavrinha perigosa: c o m u n i s t a. A mãe dele foi logo dizendo: "Mas que pergunta é essa, Pepito? Isso não é conversa para criança, sso é feio". Perfeito, essa era a reação natural de uma época.

Vivi essa época e, mais do que isso, o problema que gerava para uma criança ser filho de um comunista, ainda mais no sertão de Prnambuco. Sim, fui um Pepito filho de comunista.

Só quem teve essa experiência de vida pode avaliar o quanto era pessada a barra. O filho de um comunista não era só discriminado, era estigmatizado, perseguido, hostilizado. Era visto como uma ameça, um perigo, algo nocivo, tipo virus do mal, Não havia qualquer tipo de compreensão, ajuda, compaixão ou justiça.

Era o tempo da guerra fria. O comunista era chamado pelos padres nos púlpitos das Igrejas como assalariado de Moscou. Iam além: havia um padre que dizia nos sermões dele que os comunistas comiam criancinhas (mais tarde se soube quem fazia mal às crianças e adolescentes). Na porta da greja Matriztinha um grande cartaz retratando um soldado russo pisando com uma enorme bota um pobre camponês, e a legenda: "Isto é o comunismo!".

Toda s sociedade era contra os comunistas, contra e perseguia, o delegado, o juiz, o promotor, o prefeito, os vereadores, os padres, as freiras, os comerciantes e o escambau. Os diretores de escolas humilhavam s filhos dos comunistas. Imaginem o sargento do Tiro de Guerra. O mesmo faziam os partidos da cidade, a UDN e o PSD. Houve épocaem que só sedavam com os comunistas e suas famílias, inclusive filhos, os malndros e as putas. Juro. Daí a minha simpatia por uns e outras.

Alguns filhos de comunistas sofriam paca, até se desesperavam com a discriminaçãoe as hostilidades, mas eu não sofri tanto, talvez porque já era curtido pelo sofrimento com a asma. O fato é que fiz a travessia sem maiores traumas. Sempre fui meio arteiro. Fazia um levantamento da vida dos país da gurizada, ficava sabendo de muita cisa cabeluda, então quando algum bestinha vinha com a cantilena do ouro de Moscou, por exemplo, eu abria a caixa de feramentas, os podres dos pais. Eraremédio santo. Mas havia um cara mais afoito e metido a durão, na saída da escola ele me chamou de filho de vendido a Moscou e que comunismo era uma peste que pegava até no vento, eu já estava preparado para enfrentá-lo, se fosse peito a peito eu perdia, o cara era muito mais forte que eu, mas eu havia chamado um irmão que era não so forte mas o terror da meninada, ele ficou de banda sem ser visto, então e olhei para o carinha e disse bem alto: - É melhor ser filho de comunista que filho de corno e ladrão. Era fato conhecido, mas ninguém tivera peito de dizer em público. O carinha se aspou, mas aí surgiuo meu irmão e ele amarelou, ainda me pediu desculpas. Depois desse incidente a coisa ficou mais maneira, a saía era o enfrentamento.

Mas nos anos 70, no auge da ditadura, os meus irmaos mais novos perderam as namoradas por causa do comunismo do meu pai, as meninas acabaram o namoro oficialmente, mas por debaixo dos panos, sai debaixo. Era outro tempo, mesmo com a ditadura começavaa liberdade da garotada no tocante aular a cerca.

É isso, Aragón, fui um pepito filho de comnista e no sertão. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 24/07/2017
Código do texto: T6063601
Classificação de conteúdo: seguro