Coisas deste tempo

E com o passar do tempo, os sonhos vão sendo empacotados com as contas acumuladas, os problemas cotidianos, as relações pesadas, o excesso de trabalho. Com o passar do tempo, os projetos são deixados numa gaveta qualquer do nosso inconsciente. Conscientes que na vida qualquer coisa mesquinha nos serve, e qualquer migalha de afeto nos satisfaz. Nos tornamos menos para ter mais, enquanto deveríamos ser mais mesmo sem ter tanto. Sempre me questiono porque nos mantemos em empregos que nos "dementam" e em relacionamentos que nos sequestram. Sobre isto, todos os dias eu escuto uma história nova de pessoas deprimidas, infelizes, por onde estão ou com quem estão. São hábitos que nos destroem, paliativos alucinógenos que já não produzem efeitos. Apenas vítimas.

Apesar de sermos grandes e divinos, em algum momento da nossa jornada chamada vida, perdemos o contato com a nossa essência; e no intuito de encontrar algo que nos traga significado vamos gastando nossa energia e nos preenchendo de coisas, situações e pessoas que só nos esvaziam mais e mais dia após dia.

Recentemente, ouvi um caso sobre umas mulheres que deixaram seus empregos como professoras, algumas para fazer algo diferente, outras para não fazer nada. A questão, é que elas quiseram mudar, buscar um pouco de felicidade em algum lugar tão profundo e distante chamado eu interior; construído nas bases sólidas da autoestima e da paz. O que é bem difícil nestes dias. Nas coisas deste tempo, com algumas exceções raras, vivemos dias de relacionamentos adoecidos, pessoas radicais em suas motivações possessivas e violentas, travestidas na desculpa fajuta de que é culpa do amor, o ato de aprisionar e machucar o outro, físico e/ou psicologicamente. Ledo engano, o amor é leve, é para fazer bem, promover o bem estar e trazer luz. Profundidade. Do contrário é pseudo amor.

Nas coisas deste tempo é compreensível a dificuldade de encontrar o equilíbrio ou a profundidade, já que nossas relações são superficiais demais até com nós mesmos. Prestando atenção à conversa de duas mulheres outro dia na fila do banco, ouvi o relato de como uma terceira havia terminado um relacionamento longo, após consecutivas e incansáveis traições do marido. Está aí, nunca entendi muito bem a traição, a mentira. A mentira aprisiona e machuca. E não é machucando o outro que a gente se cura. Definitivamente não é. Enquanto, a verdade liberta e cura. Apesar disso, nos tornamos afetivamente cínicos e sádicos.

A causa de tantos problemas humanos, é que estamos afetivamente patológicos, como uma síndrome, superficialmente sobrecarregados pelo turbilhão de informações a que somos expostos diariamente, especialmente, nas redes sociais. Que claro, todo mundo tem, mesmo quem não sabe pra que serve, tem. Por isso, neste tempo atual, as coisas começam e terminam na velocidade de um click, somos corajosos, e há sempre um "post" de alguém bem resolvido, carregado de teor filosófico. Filosófico até demais. Há sempre alguém bem feliz, mas, o número dos que se acham felizes é maior do que aqueles que são felizes de fato. Há muita vida virtual e pouca vida real. Alter egos criados para agradar pessoas tão falsas quanto nós. Superficialidades, frivolidades, futilidades que nos levam a existir, sem de fato viver plenamente.

O tempo vai passando e a idade nos envelhece, contudo, são as experiências que nos amadurecem, especialmente, se estas são verdadeiras; para o mal ou para o bem elas devem ser verdadeiras. Quando não são, corremos um sério risco de em meio a tantas coisas deste tempo, vivermos em nós mesmos vidas que não são nossas, com coisas, pessoas e situações que não precisamos.

Tatiane Pereira dos Santos
Enviado por Tatiane Pereira dos Santos em 22/07/2017
Reeditado em 24/07/2017
Código do texto: T6061812
Classificação de conteúdo: seguro