Aqueles Amigos
 
Somos seres sociais e por isto inexiste alguém que não tenha ou não teve um amigo nas várias faixas etárias.
 
Há amigos de infância.
Há amigos de adolescência.
Há amigos de juventude.
Há amigos de senectude.
Há vizinhos amigos e amigos de escolas.
 
É assim que diluímos nosso Eu em vários nós, Nós amigos. Nós somos seres sociais e sociáveis. Por mais solitários, excêntricos, estranhos e esquisitos que sejamos precisamos do outro. É  uma necessidade. Podemos até nos isolarmos, mas uma força nos impele a buscarmos a presença alheia. E até de forma inconsciente agimos assim. É questão de sobrevivência senão a loucura nos toma.
Precisamos estar juntos para alegramos, para reclamarmos, para até resmungarmos um do e com o outro.
Inventamos até amigos imaginários.
 
Nestes dias de virtualidade estabelecemos até amizades virtuais: nunca vimos na realidade o outro, mas sabemos dele preenchendo lacunas para identificarmos o amigo com características que idealizamos – na verdade projeção de nosso Eu.
 
Foi a época em que parentes e vizinhos trocavam fotos, além de postais. Na adolescência, talvez a forma embrionária desta virtualidade contemporânea, participei de Corrente de Postais Turísticos: eram listas em que recebíamos nomes e endereços. Para os primeiros mandávamos postal da cidade e o nome e endereço da gente entrava no rol. Não demorava muito e recebíamos cartão postal do mundo inteiro. Até hoje tenho a minha coleção.
 
Quanto aos retratos, os  guardávamos em caixas e álbuns. Assim entre tantas está ali a fotografia de um amigo de infância em sua “Primeira Comunhão Católica”. Éramos vizinhos.  E  certamente ele recebeu a minha foto também por esta ocasião típicamente  vintage: cabelo príncipe-danilo, gravata, terno de calças curtas, meias, sapato social e flâmula no braços com símbolos da eucaristia. Era o Geraldo, irmão do Ambrosinho, Lídia e Leila. Brincávamos todos juntos com outros do bairro. Não demorou e eles mudaram para outro bairro e a vida transbordou. Fui revê-los quando eu já tinha 20 anos e daí nunca mais os vi.
 
Outra vez fui abordado por um senhor que dizia ter sido amigo de escola. Contou toda a sua problemática na vida e como perdeu pessoas queridas. Infelizmente por mais que eu tente não consigo visualizá-lo garoto na escola, mas é certo que quando nos encontramos na rua sempre ele faz questão de meu cumprimento. Eu retribuo e trocamos palavras. E é tudo o que ele deseja: atenção.

Gozando já a aposentadoria tenho visto o Francisco e o outro dia o seu irmão Darí. Cumprimentamo-nos. Hoje eu fui além. O parei na rua. Perguntei se seus pais eram vivos. E aí ele disse que a última a falecer foi sua mãe há dois meses atrás. Mulher guerreira que acabou criando os dois filhos e educando-os para serem homens de bem lavando 25 trouxas de roupa mensais para terem as necessidades básicas supridas. Viveu até aos 92 anos. Seu pai não deixara nenhuma pensão para ela.
 
O fato de eu ter lhe dado esta atenção trouxe a ele momentos de felicidades, pude perceber. Contou-me que seu irmão está muito triste e tem medo da solidão, pois não se casara dedicando a ajudar e cuidar da mãe.  No final da conversa seguimos o caminho. Isto me inspirou a escrever esta crônica  sobre a amizade. Eu a guardei para publicá-la próximo à ocasião do Dia do Amigo. A todos os amigos, felicitações.
“Aqueles amigos” são eternizados em nossas lembranças.


Leonardo Lisbôa.
Barbacena, 15/05/2017.
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 21/07/2017
Reeditado em 21/07/2017
Código do texto: T6060918
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