Nossa, que beleza!

No restaurante que costumo almoçar, cumprimento um casal que está curtindo os primeiros momentos do descobrimento da maternidade/paternidade.

Enquanto almoço, nas proximidades, escuto a mulher, futura mamãe, cumprimentar outra, pela gravidez de gêmeos, num sonoro – Nossa, que beleza!

Na hora, pensei – ela ainda está na fase do “nossa que beleza”... pois no meu caso, e acho que no caso de tantas outras que são mães, recentes ou não, a exclamação vai mais para o “nossa, coitada!”

Não pela gestação em si, se bem que imaginar dois seres crescendo, e dando cambalhotas, chutes, soluçando... nem sei como será dormir com tamanha algazarra uterina.

Mas, principalmente pela saída da maternidade... quando nossos bebês se deparam com o redondo do mundo... e temos medo até do ar que nos rodeia, se está muito contaminado ou não, se venta, se o sol está quente ou o ar condicionado gelado, se na cadeirinha o pescoço vai pender pro lado, e vamos já adotar uma das primeiras culpas, que é não ter o controle pra que se fique numa posição mais confortável.

Isto na primeira gravidez, na segunda, as coisas vão ficando mais amenas. Fico a pensar... por que ficamos tão amedrontadas e fragilizadas agora, com nossa uma, duas, no máximo três crias? Enquanto nossas avós tiveram pelo menos cinco... Será que ninguém nos ensinou o animalesco da vida? Gerar, parir, cuidar... Será que ficamos tão abandonadas, sem o círculo da parentada a ajudar por um tempo maior? Só contando com o companheiro, que vira pai, quando a gente vira mãe, e que tem que pegar no pesado também, se não a vaca vai pro brejo logo logo... ou sou eu que faço parte de um grupo de mulheres loucas que precisam que o pai pegue no pesado também...

Certa vez, um padre fez uma observação muito poética – disse que filhos são a personificação do amor. Coloco-me a fazer alguns estudos de caso/casais, colocando-me no meio, é claro. É muito bonito e significativo olhar esses seres pequeninos e concluir: são personificações amorosas. E, no entanto, quando pensamos que tal momento seria o ápice da relação amorosa, vem um tabuleiro de xadrez, nos colocando em xeque-mate. O casal – homem e mulher, vira casal – pai e mãe.

Neste, que deveria ser o “ápice” amoroso do casal, de repente um olha para o outro meio de soslaio, e conclui que um amor maior nasceu, e que os protagonistas amorosos que quiseram tornar o amor – uma pessoinha, já não são tão amorosos assim.

Surge, o pai fulano de tal e a mãe gracinda de carvalho. E viram rocha, pedra, trovoadas e tempestades. Não sabem ainda lidar com estas novas personas que entram pela porta, e lhes habitam. O casal de antanho, feliz e preocupado com o destino da próxima viagem, agora se vê preocupado com a hora do banho, das mamadas, dos exames dos primeiros meses, das demoradas esperas nos consultórios pediátricos, etc, etc.

E volto a me perguntar – por que... Por que este novo papel de pai e mãe, vem patrolando o homem e a mulher de antanho? O que ficou por aprender, o que ficou por experimentar? Por que ficamos tão jogados na lonjura de nós mesmos? E quem são estes nós mesmos de agora?

Sem respostas ainda para estes “estudos de caso”, vejo-me tateando em um cômodo escuro, com luzes tímidas lambendo frestas, janelas escondidas por abrir.