O brasileiro paciente

Ao longo de quinhentos e dezessete anos de existência o brasileiro está sofrendo com uma contaminação. Apesar do prognóstico preocupante, seu coração continua a bater no ritmo da esperança. Apesar da dor nas suas costas, seu caminhar continua com a postura saudável. Apesar dos estalos no joelho enfrentados nas caminhadas, nada o impede de sambar sua felicidade.

Esse é o retrato de duzentos milhões de brasileiros, a mistura da dor com a felicidade, o rosto da esperança no cenário do caos, o paciente sendo cuidado pelo médico da ilusão.

Mas, boas noticias! O paciente mudou para o médico da verdade e, finalmente, as doenças foram identificadas, é um milagre! O tratamento pode ser um pouco demorado, mas o prognóstico é de recuperação total e vida longa ao rei!

Agora o brasileiro transforma-se em outro tipo de paciente, não mais aquele que procura o tratamento da doença, pois, essa etapa já foi cumprida, mas sim naquele que tem tranquilidade de mente e espírito para manter viva a chama da esperança de que a cura está a caminho.

As doenças foram simples de se identificar, políticos com mentalidade administrativa de uma criança de seis anos de idade, uma legislação escrita sob gênero "comédia de mal gosto" (em todos os ramo, criminal, tributária, previdenciária, trabalhista, etc), um sistema econômico-contábil que vem sendo premiado pela sua criatividade ao invés da sua integridade e a contaminação generalizada de uma nação inteira pelo "jeitinho brasileiro de ser".

Agora que foi iniciado o tratamento, o primeiro teste de paciência será esperar que o remédio do judiciário elimine toda leptospirose trazida pelos ratos que infestaram o sistema público nos últimos quinhentos e dezessete anos de existência. Difícil esperar, mas já começamos a ver algumas melhoras. O segundo teste será a espera de que o Poder Legislativo, e principalmente o Congresso Nacional, deixe de ter um caráter pífio e elimine as barreiras legislativas que fazem do Brasil a "República Federativa da Burocracia". Extremamente difícil de se acreditar, especialmente por se tratar de uma dor antiga em um paciente idoso, mas, foi o que o médico disse, paciência é paciência.

Apesar de toda fé exigida para superar os dois primeiros testes, é o terceiro que é visto como o mais desafiador, seu nome, "o jeitinho brasileiro de ser". Esse é considerado o mais difícil por que é o mais constante. Ele é aquele soluço que não vai embora, por que ocorre desde o papel de bala jogado na rua, até no superfaturamento em obras públicas investigadas pela Lava Jato (cujo valor estima-se acima de R$ 14 bilhões), o qual, diga-se de passagem, foi pago com dinheiro da mesma pessoa que jogou o papel de bala na rua. Esse é o sintoma mais desafiador, porque para que eliminemos a contaminação que nos adoece, precisamos mudar a consciência dos nossos próprios atos. É refletir no presente para que no futuro, as próximas gerações, tenham o orgulho de dizer que foram educadas pelos brasileiros que impuseram "o novo jeitinho brasileiro de ser" .

"O homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível" - Mahtama Gandhi