Casinha Coração.

Passamos a vida esperando o amor bater na nossa porta, a cada visita inesperada temos a esperança de que o visitante vai querer fazer morada ali naquela casinha chamada coração. As partidas nos machucam, as chegadas nos alegram. Essas idas e vindas que movimentam nossa casa. Quando finalmente seremos morada permanente de alguém?

Eu sempre reflito sobre minha tentativa de fazer morada no coração alheio. As vezes sou despejada, as vezes não sou bem vinda. Ai faço as malas e me mudo de novo, continuo vagando de coração em coração. Algumas partidas machucam mais, decido ficar na rua por um tempo, sem lar, sem teto, sem amar. As ruas estão sempre cheias, as casas andam tão vazias, vejo pessoas em suas janelas sozinhas.

Tem aqueles que trancaram suas portas e perderam as chaves em alguma esquina por ai. Estão exilados do seu próprio coração. Observo as pessoas em suas prisões e liberdades, elas ate se confundem na cidade.

Compartilhamos nas ruas sorrisos e beijos desapegados, a liberdade dos exilados, a prisão dos apaixonados. Dividimos dores, amores, sabores adocicados. Nos embriagamos para adormecer o corpo, fugir do frio gelado da rua dos exilados. Gritamos alto para incomodar a vizinhança aprisionada, livres que somos desses apegos de tolos apaixonados. Desapego, a palavra que rege a rua da liberdade, liberdade triste e deprimida. Eles gritam só pra fingir que são felizes.

Mas olho para as janelas acessas da cidade, vejo pares, vejo mares, vejo amor transbordando pelas chaminés. A gente também quer se aquecer na lareira do amor, mas tem quem prefere vestir mais um casaco do desapego. Vou voltar pra casa e ficar sozinha, sento na janela para ver essa gente passar. Minha solitude me acompanha no vinho seco e conversamos sobre o tempo.

Mais tempo, queremos mais tempo para amar e estar sozinho.

Eu aprendi a guardar as chaves da minha casinha coração, por que sei as vezes preciso andar por ai na rua. Mas e necessário voltar e tirar a poeira dos moveis, manter a casa limpa e em ordem, afinal nunca se sabe quando o amor vai chegar e se ele decidir ficar a gente pode mudar alguns moveis de lugar juntos.