Sem ódios

Ao longo da história a humanidade transformou seus costumes, readaptou-se socialmente e aperfeiçoou suas ideias, realizou sonhos. Dois exemplos deixam bem claro essa inquietação.

Nas primeiras provas as corridas de Fórmula 1, montes de feno e capim eram usados amortecer o choque dos carros contra as cercas. Até que certo dia um carro bateu, derramou gasolina e o piloto morreu carbonizado. Devido às adaptações, felizmente há muito tempo não morre um piloto vítima dos acidentes cinematográficos.

Por treze vezes Santos Dumont foi inventando e aperfeiçoando o avião até que chegou ao 14 Bis, seu modelo mais avançado. De lá para cá não é preciso dizer mais nada sobre as inovações dos aviões.

Essa introdução é para trazer ao nosso debate o provável desgaste do modelo político, econômico e jurídico brasileiro. Neste momento todo o país assiste, num misto de incredulidade, indignação e alívio, à Operação Lava Jato revelando o submundo das negociatas e conchavos nos altos escalões da república e encarcerando pessoas de alto poder político e financeiro.

Enquanto isso magistrados duvidam da nossa capacidade de indignação e dão-se ao luxo de jantar com os réus que eles julgarão; políticos cheios de pompas fazem um contorcionismo semântico para ludibriar a opinião pública, alegam perseguição política e evitam explicar objetivamente as acusações proferidas pelo ministério público.

A nossa democracia parece estar bem enraizada, não se mostra cambaleante, parece não necessitar de avaliação. Porém, o atual regime político baseado no presidencialismo de coalizão mostra-se ultrapassado e não responde às expectativas da população... nem mesmo dos políticos pois estão sendo tirados dos seus cargos e engaiolados como ninguém imaginava há pouquíssimos dias.

Tudo isso nos deixa de nervos à flor da pele. Leva a momentos de ataques mútuos, intolerância e desconfiança entre nós cidadãos-irmãos, desavenças dos políticos entre si e para conosco pois não têm certeza se votaremos neles na próxima eleição. E não devem mesmo confiar em nosso voto.

Esse momento de instabilidade teve início nas decisões erráticas na política e na economia e reflete-se no atendimento do lojista, na abordagem do guarda de trânsito, na escrita capciosa de alguns jornalistas e entre os quatorze milhões de desempregados. Somos todos vítimas, não podemos negar.

Para voltarmos à normalidade temos que desenhar novo horizonte ou aperfeiçoar o que temos nas próximas eleições. Afinal, foram os políticos que deram o pontapé inicial para esse caos político e econômico.

Temos duas opções. Reavaliar nosso sistema político e econômico; implantar novo modelo substituindo o atual - o que seria a solução mais improvável; ou, a mais exequível, nas próximas eleições substituirmos os atuais políticos por outros com ideias novas.

Até lá temos que nos tolerar e aturar as autoridades que estão no comando. Vamos fazer isso conversando, trocando ideias, recuando quando for preciso, mas num clima de respeito, de tolerância e sem ódios.