ÔNIBUS LOTADO.

           Ônibus lotado, apressado em ir para casa o rapaz olha no relógio, são cinco horas da tarde em ponto, fim de ano, o centro da cidade de Sorocaba está abarrotado de gente. As lojas estão lotadas, mesmo em tempos de crise, as lojas estão lotadas, mesmo com o salário baixo, as lojas estão lotadas, mesmo com as contas cada vez mais caras, as lojas estão lotadas, eu não consigo visualizar no meio dessa turba de transeuntes apressados a tão falada crise, não há crise quando se tem vários cartões de créditos.

           Agora já dentro do terminal rodoviário Santo Antônio, o rapaz olha novamente no relógio, semblante carregado pelo cansaço, são cinco horas e quinze minutos. No ponto de número setenta e seis da vila São Guilherme não há mais lugar para as pessoas, a fila está lotada, de modo que ela está fazendo volta na parte de trás da grade de segurança. O movimento no fim de ano é sempre assim, mais intenso, mais ônibus, mais horários em todas as linhas, mais pessoas em todas as linhas, mais sacolas te espremendo no interior do ônibus, é sempre mais e mais, fim de ano é frenético não tem jeito.

           Impaciente o rapaz olha novamente o relógio; cinco e vinte da tarde, horário de pico na cidade de Sorocaba, o que já era ruim começa a ficar um pouco pior. De longe ele vê o ônibus chegar, o letreiro amarelo escrito São Guilherme, o rapaz sente alívio, finalmente iria se sentar, mas a fila no ponto está cada vez maior. Quando o ônibus finalmente estacionou, o motorista abriu apenas a porta de traz, tremenda sacanagem do motorista pensou o rapaz. Quando ele finalmente se sentou na poltrona dura de plástico no corredor, o ônibus já não cabia de gente, o rapaz lamentou,  janela nem pensar.

           No ônibus lotado havia todo tipo de pessoas, algumas bonitas e elegantes de óculos escuros nos olhos, outras usando fone de ouvidos e batucando com os dedos, outros distraidamente correndo o dedo na tela do celular, outras cheias de sacolas tentando se equilibrar no corredor abarrotado do ônibus, outros conversando bobagens e contando piadas, outras com as mãos no rosto e o semblante de dor cansaço, como quem está com enxaqueca. Assim o ônibus se faz, com outros e outras, em um pequeno universo interno, que é o próprio reflexo de uma cidade inteira, que é por sua vez o reflexo de uma capital inteira, que é por sua vez o reflexo de um estado inteiro, que é em última análise o reflexo de um o país inteiro.

           O motorista finalmente entra no ônibus, olha no relógio, cinco da tarde hora de partir, ele fecha as pontas do ônibus, baixa seus óculos escuros, olha uma última vez o corredor lotado, liga o motor barulhento do ônibus e sai a toda velocidade. A primeira etapa foi vencida, agora de olhos fechados e cabeça baixa o rapaz adormeceu, pensando no momento em que chegaria a casa, no banho tomado, na janta quentinha, adiante havia um trânsito enorme, horário de pico, o rapaz era apenas mais um entre tantos outros no ônibus lotado do jardim São Guilherme.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 27/05/2017
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