Sérgio Moro não é Deus

Noite passada estive com uns amigos tomando uns tragos e saboreando uns deliciosos tira-gostos. Como a situação política-policial está nos noticiários e trabalhamos para o Governo o assunto na mesa foi corrupção.

Um dos colegas disse que ‘com a Operação Lava Jato a corrupção será varrida do país... Graças a Deus temos Sérgio Moro’, completou. A jovem senhora ao meu lado disse que no encerramento do Seminário na Universidade de Brasília, em coro, a plateia entoou o desenxabido ‘Fora Temer’. Disse ela: ‘Fiquei caladinha, pois tenho a missão na terra de doutrinar meus colegas contra o Partido dos Trabalhadores”. O mais alto de nós deixou o carro na rua e foi embora de Uber, havia prometido à filha que sempre que ele bebesse não dirigiria.

Como todo bebum é rico, corajoso e inteligente eu entrei na discussão. Defendi que nenhuma Lava Jato acabará com a corrupção se nós, individualmente, não fizermos a nossa parte, se não a eliminarmos das nossas vidas. Como lá ninguém me ouvi, resolvi conversar com você.

Segundo o dicionário, Corrupção é ‘devassidão, corromper, desmoralização, putrefação’. Como se percebe não tem muita ligação com a corrupção praticada pelos políticos.

O fim da corrupção depende diretamente das nossas atitudes. Precisa tomar conta dos nossos corações e mentes. É ilusório pensarmos que o show de denúncias que assistimos na televisão é coisa apenas do mundo político. Esse show degradante está mexendo com nossas vidas, com nosso bolso e nossa saúde. É como se estivéssemos na arquibancada do estádio assistindo ao jogo político, torcendo para um dos lados e a partida fosse tomada por denúncias e nos assombrássemos com as jogadas desleais. Tomados pelo êxtase da confusão, esquecemos das nossas pequenas corrupções diárias. Como corrupção eu incluiria: ‘não respeitar as regras’.

A corrupção vai enfraquecer quando tivermos o mesmo sentimento que temos na copa do mundo. Estando jogando Brasil e qualquer outro país, já sabemos o que acontecerá ao brasileiro que ouse torcer para o adversário. Esse sentimento de unidade em torno do fim da corrupção é o que poderá vir a acabar com ela.

Sobre ‘Furtar’ o mesmo dicionário diz: ‘apoderar-se de coisa alheia. Apresentar como seu (obra, pensamento, trabalho de outrem). Trapacear no jogo’.

Como podemos ver, ficar com dinheiro alheio está mais para ‘furto’ do que para ‘corrupção’.

Ainda não larguei o dicionário. Vamos ver o que ele nos ensina sobre Ladrão: ‘Que, ou aquele que furta ou rouba. Que, ou aquele que de qualquer maneira fraudulenta se apodera do que é de outros’.

Portanto, é elogio chamar de corrupto o político que roubou milhões dos cofres públicos. O vocábulo ‘corrupto’ foi criado para ludibriar o imaginário popular. É feio chamar rico de ladrão. Rico é corrupto...

Aqui em Brasília temos a fama de cidade corrupta, só que queremos dividir esta fama com os eleitores que mandam seus ladrões para cá.

A pena para o político é cadeia, devolver o dinheiro, quiçá perder as próximas eleições. O castigo para o eleitor que o elegeu é ficar sem atendimento nos hospitais, sem escolas de qualidade e sem polícia nas ruas.

Os Dez Mandamentos seriam a primeira cartilha no combate à corrupção? Vejamos:

7. Não roubar (Deus não falou ‘Não corromperá’);

8. Não levantar falso testemunho (Deus já previra as delações premiadas?).

Ora, se os políticos não respeitam Deus, irão respeitar Sérgio Moro, que não é Deus?