Nem Sempre Ganhando ou Perdendo

Não foi mais um título, mas o primeiro dentro da nossa casa na Arena Corinthians, quis o destino que o Itaquerão fosse o palco apropriado na conquista do vigésimo oitavo título paulista, batendo a fantástica Ponte Preta quarenta anos depois do histórico título de setenta e sete, encerrando naquela oportunidade um jejum de vinte e três anos sem conquistas. Em momento algum vou traçar um paralelo entre as conquistas, pela simples razão na qual a primeira conquista o Corinthians necessitava insistentemente daquele título, principalmente na forma em que o gol de Basílio foi caprichosamente construído. O sabor satisfez o apetite daquele torcedor famélico, maltratado por tantos infortúnios produzidos pelos adversários da época muito mais habilidosos e vitoriosos.

Quero destacar em poucas linhas o despertamento do torcedor por seu time ou seleção, na medida em que o indivíduo aprende a ganhar e perder à partir do evento futebolístico. Somos desde a mais tenra idade, levados a conviver com aspectos importantes dos quais irão moldar a percepção de vitória ou derrota, tanto na vida prática quanto na manifestação da torcida para um time aleatório.

Aprendemos a competir com as demais pessoas desde a uma vaga de emprego até a quantidade de títulos que nosso time possui ao longo de sua existência. Alegramos na conquista do título e lamentamos quando perdemos o campeonato, porém o amor ao time ou seleção do coração é incondicional a ponto de ferirmos emocionalmente no momento da derrota.

Assim como na vida ninguém vence antecipadamente, as estratégias aplicadas ao longo da vida ajuda-nos definitivamente no objetivo do alvo e desta forma alcançar o sucesso esperado para aquele fim. Quando ocorre o inverso necessitamos absorver os erros compreendendo o método relacionado, lutando bravamente com a convicção que na próxima oportunidade, venceremos obstáculos que outrora eram inatingíveis.

Outro ponto no qual visualizamos este embate de ganhar ou perder é junto à torcida. Muito comum entre os torcedores a utilização de chacotas quando os times ou seleções enfrentam-se de forma pacífica, com o sucesso de uma das equipes as provocações proliferam inclusive nas redes sociais, claro que os torcedores da equipe rival mesmo na derrota associam sua motivação no próximo confronto e no histórico de conquistas no intuito de enaltecer "o feito heróico" daquela agremiação. Lamentavelmente sabemos que muitos trogloditas partem para a pancadaria, medindo forças reunindo suas súcias arvorando planos maléficos contra os demais torcedores além de afrontar a força policial mostrando suas ignorâncias em estado bruto.

Contudo o sentido principal de ganhar ou perder reside no ideal da conquista de um objetivo, persistindo na obtenção de um emprego, de um automóvel, de uma residência ou de qualquer outro bem e quando conseguimos sentimos felizes pois a batalha foi vencida. Ao contrário sentimos tristeza e lamuriamos nossa sanha incontida, porém não devemos ser assim, diante do contraditório nossa alma congrega o júbilo de pelo menos arriscar mesmo frente à derrota eminente. Sempre buscando estratégias pertinentes a fim de evitar os erros que permeiam uma provável vitória.

O futebol ensina-nos a conviver com estes sentimentos antagônicos e para reforçar o quanto o medo pode atrapalhar a realização de nossos desejos, fixo a frase de Woody Allen ao ser questionado se tinha medo da morte: "Não tenho medo algum; apenas não quero estar lá quando isso acontecer..." Esta frase retirada do livro "Não se desespere - provocações filosóficas" de Mário Sergio Cortella página 70, vem ao encontro das ansiedades que temos diante do desconhecido na derrota, portanto aceitamos o improvável mesmo que nós não queiramos estar lá.

Nota do Autor: O Corinthians foi tricampeão paulista em 2019 vencendo o São Paulo por 2 x1 neste mesmo palco. Hoje o Timão tem 30 títulos paulistas. O nome do estádio do Corinthians é Neo Química Arena desde 10/05/14.