Solidão

O ser humano é gregário por natureza. Gostamos e precisamos viver em sociedade. Apesar de, às vezes, reclamarmos tanto do Outro, não vivemos sem ele. Faça o teste: fique uma semana sem sair de casa, sozinha. No começo, vai ser ótimo. Mas vai chegar uma hora em que você vai precisar do contato com outras pessoas, ainda que seja a fofoqueira da sua vizinha ou mal-humorado do seu porteiro, senão enlouquece. É o famoso “preciso ver gente!”, que tantas vezes nos acomete. Aliás, vários experimentos feitos com animais provam que, também eles, precisam de contato com seus semelhantes.

Eu já trabalhei como voluntária em um Grupo de Apoio e pude ter a dimensão de quantas pessoas vivem em completa solidão, sem ter mais ninguém no mundo. E pude sentir como isso as afeta, especialmente em épocas festivas, como Natal e Ano Novo. É uma situação muito triste, muito impactante. Por isso, gosto de, sempre que posso, visitar asilos. Há idosos que são visitados, mas há outros que, mesmo tendo família, ninguém visita mais. São os esquecidos, os enjeitados, os abandonados... Não vivem sozinhos, é verdade, mas queriam ver seus familiares e não as mesmas carinhas de sempre. Uma vez, uma velhinha me disse: “eu adoro quando vem visita nova, porque nós já contamos tudo uma para as outras e não temos mais sobre o que conversar”.

Mas tem o outro lado da moeda. Tudo tem dois lados, não é mesmo? Se é verdade que fomos feitos para viver em sociedade, também é fato que precisamos amar estar conosco mesmos. Precisamos sentir prazer em nossa própria companhia. Precisamos nos curtir. Porque esse medo ancestral da solidão, se não for bem trabalhado, causa danos emocionais, espirituais e até físicos, dada a somatização dos sentimentos negativos. E é desse medo que saem os relacionamentos complicados, desnecessários e, até mesmo, abusivos, pois quem teme a solidão inverte o ditado e acredita ser melhor estar mal acompanhada do que só. Não entende que a solidão é, também, um estado de espírito. Alguém já disse que podemos nos sentir sozinhos, mesmo cercados por muita gente.

É isso. Sempre o equilíbrio. Já diziam os antigos: in medium virtus. A virtude está no meio. Nem 8, nem 80. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Precisamos de companhia, sim. Sair para tomar um café com uma amiga, um chope na happy hour com os colegas de trabalho, o almoço de família, mesmo com aquela tia meio lelé que não para de contar as mesmas coisas. Mas também precisamos do nosso espaço, do nosso momento a sós, para sentir como estão as coisas aqui dentro, para saber se estamos bem, se tem algo nos faltando, se alguma coisa está nos ferindo, se precisamos nos curar de mágoas e tensões. E, principalmente, para saber se as pessoas com que nos relacionamos estão nos fazendo bem ou mal. É preciso refletir, ponderar e tomar decisões.

Fecho com Friedrich Nietzche: Odeio que me rouba a solidão sem, em troca, me oferecer verdadeira companhia.

Paz e bem!
Rosa Pinho
Enviado por Rosa Pinho em 10/05/2017
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