Uma noite na taverna: Bertram o idiota azarado

Uma explicação breve sobre o que é isso que eu to postando aqui:

Eu fiz esse texto pra um trabalho de português sobre o livro Uma noite na taverna, que era basicamente reescrever um dos contos para o dia de hoje, esse texto ficou maior do que o outro que eu coloquei aqui também tem uma temática diferente mas espero que gostem.

Em um Taverna já muito antiga, Bertram e seus conhecidos já bêbados compartilham histórias de vida, eles já tão alterados passam um tempo sem perceber que seus copos estão vazios.

_ Hey garçom, traga mais 6 copos dessa sua coisa, que agora sou eu quem vai contar! - Exclama Bertram alterado.

O jovem garçom já cansado de trazer bebida para eles, repassa mais um dos muitos pedidos da noite para o barman. O barman também cansado daqueles seis só joga os ingredientes para a bebida e a vodca, balança tudo de forma desleixada em uma garrafa de ferro e dispõe a bebida em 6 copos. O garoto coloca os seis copos no prato e leva para o grupo de bêbados suas bebidas.

_ Obrigado garoto, porque não senta com a gente? - Fala Bertram já pegando a cadeira para o jovem.

O jovem olha para o barman em busca de um conselho.

_Tudo bem, vai. - Sussurra o barman em resposta ao olhar do garoto.

O garoto desconsertado se senta junto a eles e pergunta.

_Então quem vai contar agora?

_Você estava ouvindo a gente? -Pergunta Bertram pela primeira vez são.

_Sim, eu estava interessado na conversa de vocês, todos já foram embora então só tem vocês falando aqui e eu não pude deixar de notar a conversa de vocês.

_Ok, é bom saber que eu tenho público, então agora que já temos bebida podemos continuar. - Responde Bertram.

_A minha história começa bem antes de conhecer vocês, quando eu era apenas um jovem indeciso, não sabia de nada da vida, a história que eu vou contar a vocês é sobre a mulher que me mudou, que me fez deixar de ser aquele jovem idiota.

A história começa antes da guerra explodir, eu de meu alistamento e se estende até muito depois.

Eu devia ter por volta de uns 10 anos quando eu conheci ela, suas madeixas morenas e seus olhos azuis como safiras, arrisco a dizer que era mulher mais linda que já conheci em toda minha vida, nós nos tornamos amigos na escola que eu estudei toda minha adolescência, ela era a aluna transferida um clichê clássico, na frente da sala se apresentando, seu nome Ângela, e era realmente angelical.

_Nossa que piada horrível- Murmura o garçom, com um sorrisinho no rosto.

_Não foi uma piada garoto, ela era realmente como um anjo na minha frente. - Responde Bertram.

Continuando a história, comecei a conversar com ela no intervalo do lanche da escola, nunca fui muito tímido naquela época podiam dizer até que eu era engraçado, nos tornamos amigos em um momento, em outro já éramos melhores amigos, rapidamente começamos a namorar, claro que não era algo muito pesado na época não passava de mãos dadas no recreio da escola, e um beijinho de vez enquanto.

Isso aos poucos foi evoluindo, passei boa parte da minha adolescência com essa garota, eu fui nutrindo um amor por ela e eu podia sentir que ela também estava construindo um amor por mim, aos poucos fomos ficando mais próximos, aos 14 anos conheci a família dela, eram todos espanhóis que imigraram para cá quando a guerra começou por lá, pessoas simples em uma casa simples, aos 16 anos tivemos nossa primeira noite ali mesmo na casa dela, foi lindo, para mim pelo menos ela não pareceu gostar muito, afinal eu era um adolescente aquilo não podia ter durado mais que uns 6 minutos.

O garçom dá uma risada tampando a boca.

_Você já deve ter passado por isso, ou ainda vai passar garoto, então não caçoe de mim- Reage Bertram.

Todos na taverna riem, inclusive o barman que encara o garoto.

Como eu dizia antes de ser interrompido por esse garoto, nossa relação estava indo cada vez mais longe, porém como tudo na vida não é perfeito, e como vocês devem saber a guerra se aproximava e evoluía junto do nosso relacionamento e eu estava chegando a idade de me alistar, porém em tempos de guerra não era uma opção, o nosso relacionamento estava chegando no fim.

_Nossa, isso deve ter sido difícil pra você. _O garoto reage a situação, mudando sua feição e se compadecendo por Bertram.

Foi garoto, mas a nossa história não termina aí, como eu dizia antes, eu fui para guerra e como estou aqui contando essa história a vocês eu sobrevivi a isso, e voltei para casa, depois de 7 anos, quando voltei para casa, eu procurei ela, foi a primeira coisa que eu fiz e tive a notícia, Ângela tinha ido para casa de parentes na Espanha, pouco tempo depois da minha saída, mesmo com a guerra em seu país eles não tinham nada a manter aqui.

Quando conta isso Bertram faz uma pausa, pega em sua longa barba meio branca meio ruiva, como alguém de meia idade e suspira profundamente antes de continuar a história.

Quando recebi essa notícia a tristeza tomou meu corpo, porém eu segui com a minha vida, não podia viver todos os meus dias em prol de um amor do passado, eu me apaixonei de novo me casei, porém, minha mulher não podia conceber filhos devido a um câncer no útero, eu sabia no que estava me metendo quando comecei o namoro e quando me casei, talvez só estivesse tentando substituir Ângela, talvez realmente a amasse, quem sabe. O câncer dela se mostrou benigno e eu estava feliz por ela, porém não o suficiente, passei mais 5 anos com essa mulher, aos poucos me enjoei dela, o casamento foi ficando chato, a paixão foi acabando e eu recorri a um site de relacionamento para juntar pessoas casadas, o site era para pessoas que não estavam tendo diversão o suficiente no casamento, um site para pessoas sujas e eu era sujo naquele momento eu era muito sujo.

Talvez por uma esperança, talvez apenas por burrice, eu pesquisei pelo nome de Ângela no site, achava que não iria acha-la ali, mas eu nutri uma esperança, uma esperança de que talvez Ângela estivesse na mesma situação que eu, entendo que seja maldade, mas eu desejava que Ângela estivesse ali naquele site sujo, eu não estava mais procurando por uma saidinha do casamento, eu me encontrava procurando pelo amor que foi perdido no passado.

Depois de incansáveis dias procurando eu a achei, achei Ângela, quando eu vi quase não acreditei seus cabelos morenos e olhos azuis estavam na foto, um pouco mais velha apenas, nada que acabasse com sua beleza, eu pensei que fosse o destino me agraciando naquele momento, agora eu sei que era o azar me tocando, na sua descrição estava o tempo de casamento, se me lembro bem estava casada a 6 anos com o mesmo homem e tinha tido um filho na idade desse relacionamento, por isso em um primeiro momento achei que não deveria incomoda-la, mas mesmo assim eu a incomodei, contei toda minha história e me revelei pra ela, o amor do passado havia voltado e creio que não só pra mim para ela também.

Bertram já estava contando sua história a horas, e todos estavam prestando atenção nele, incluindo o barman do lugar que não tirava os olhos da mesa.

Nós marcamos um encontro, 15 dias de conversa depois e tudo aconteceu muito rápido, o amor tinha voltado para nós, voltamos a passar muito tempo juntos, nos beijávamos e fazíamos sexo, éramos sujos, mas não era algo apenas carnal, ela me contava de sua vida, me contava dos horrores que passou morando em um campo de guerra e de sua felicidade ao voltar para este país e me encontrar, e eu contava a ela como lutei contra os europeus, nem me dei conta que lutei contra seu pais, a amava tanto que não pensava nela como uma espanhola nem via ela assim, porém estávamos nos esquecendo dos nossos parceiros, porém, o amor nos movia, nos fazia um só.

Não demorou muito para o corno perceber, afinal nos arriscávamos muito, ela chegava a passar dias na minha casa e dava desculpas como ‘’estava na casa de uma amiga’’ ou ‘’estava cuidando de uma tia doente’’, isso nos manteve por alguns meses, porém, ninguém é tão idiota para acreditar tanto em historinhas, quando descobriu agiu como um louco, bateu nela, a destratou, me ameaçou, quis representar Otelo com ela.

_Quem diabos é Otelo. - Pergunta o garçom.

_Um personagem da era romântica antiga, nada que um garoto da sua idade deva conhecer. Responde Bertram.

Continuando com a história, depois do escândalo que deu o corno, Ângela estava em uma situação péssima, me amava, porém, não sabia quem amava mais, quem sabe até por isso sua decisão tenha sido tão grave no final, bom falarei dessa decisão agora.

_Ângel- Antes de completar a frase lágrimas aparecem no rosto de Bertram, que rapidamente limpa elas e continua sua história.

_Ângela fez uma coisa que... não vou conseguir contar isso sóbrio por favor barman me traga outra dessa sua coisa.

O barman traz a bebida para Bertram.

_Cara isso é horrível. Diz Bertram ao dar dois goles em sua bebida.

Bertram volta a contar sua história.

Eu fui ao encontro de Ângela quando ela disse que tinha resolvido as coisas com o marido fui inocente ao procurá-la, dirigi até sua casa no litoral, nos preparando para fugir daquele lugar e quando abro a porta me reparo com uma cena grotesca, Ângela estava usando uma camisola branca cheia de sangue, em sua mão direita uma faca lotada do liquido carmesim, ao me deparar com essa cena quase desabei, só não desabei pois tinha visto coisas na guerra iguais a esta, na guerra vi homens tomados pelo ódio e com olhos vermelho sangue, os olhos que eu vi em Ângela eram idênticos a estes, não me parecia mais Ângela, mas mesmo assim eu perguntei.

_Ângela de quem é esse sangue.

E ela me respondeu.

_São de meu marido e filho, fiz isso pelo meu amor a você, olhe. Após dizer isso ela pegou minha cabeça e me mostrou os corpos do homem e da criança, o sangue envolto em seus corpos, era algo horrível.

E ela me disse aquelas coisas rindo, eu não conseguia acreditar no que eu tinha visto, e então comecei a ligar as coisas, as pessoas que vi na guerra, nos campos espanhóis, as coisas que Ângela tinha me contado sobre o seu tempo na Espanha. As coisas que os aliados fizeram para ganhar a guerra, a doença que Ângela tinha, tudo aquilo na minha cabeça começou a fazer sentido, aquelas bombas com gases envolta vocês devem saber do que eu estou falando, era isso que ela fazia.

O silêncio toma a mesa, toda a confraria começa a pensar e tudo começa a fazer sentido na cabeça deles, de repente um deles coloca sua mão sobre a boca e lágrimas tomam o seu rosto.

_Minha mulher ela é portuguesa, viveu a vida dela lá será que...ela.... Também...

_Sim, provavelmente ela foi afetada por isso. – Responde Bertram.

_Mas então o que aconteceu com você depois disso, como está aqui nos contando isso agora- Perguntou o garoto curioso.

A sim, a minha sorte, a minha grande sorte, foi ter me desprendido dela, quando fiz isso corri até o meu carro liguei ele e tentei fugir, mas antes que eu pudesse ficar tranquilo eu vi seu semblante no carro atrás do meu, era ela, Ângela seus olhos antes azuis agora vermelhos, o ódio dela me perseguindo, aquela moça que antes me ofereceu tanto amor, agora me perseguia com ódio.

Ela me perseguiu até o fim da estrada, que era um precipício só tinha o mar embaixo de mim, eu desci do carro e ela também.

_Eu dei tudo por você, e você foge de mim desse jeito. Ela disse isso para mim naquele lugar, e foi horrível.

Eu não sabia como agir, ela foi ficando mais próxima e eu fui me afastando só que atrás de mim só tinha a morte e eu fui de encontro a ela, pulei do precipício ela furiosa pulou atrás, porém por uma última vez ela me agraciou. Seus olhos azuis de novo, seus braços e mãos delicadas por um momento eu vi ali minha amiga de infância eu vi o meu amor por ela e vi o amor dela por mim naquele momento, ela pegou nos meus ombros e virou no ar, amorteceu minha queda sobre as pedras e salvou minha vida.

Então a vocês minha confraria de guerra, eu estou vivo graças a uma europeia.