VOCÊ É DEFORMADO? EU SOU!

Ontem, num desses jornais cujo Ibope é garantido pelas ocorrências sensacionalistas, veio na matéria de capa uma notícia sobre uma família cujos filhos eram portadores de uma doença rara que lhes causava várias limitações, além da deformação facial. Isso me perturbou tanto que foi alvo de sonhos a noite e, claro, motivo para mais reflexões.

A definição de deformado já é por si só doída: defeito congênito de conformação. Desproporção de membros ou órgãos. Defeito. Claro que o tal jornal fazia alusão a tal acepção da palavra. Entretanto, devaneei sobre os sentidos da mesma.

Esquecendo um pouco o conceito acima, somos todos, inclusive eu, possuidores de uma outra deformação. Em maior ou menor grau, temos a da alma. Todos temos uma certa vaidade que nos faz escolher o mais bonito, um preconceito que nos afasta dos que estão fora da conformidade imposta, uma ingratidão com aqueles que nos são braços e pernas, temos um "quezinho" se superioridade que nos mantém orgulhosos em uma zona de conforto, temos segundas, terceiras e até mais intenções em nossas declarações.

Contudo, não creio que sejamos piores seres por isso, afinal já diziam as Escrituras que, em função de muita maldade, o amor de muitos esfriará. Assim, não é de se assustar (ou é?) ao ver "deformidades" na alma que justifiquem o melhor para poucos e o pior para muitos.

Pareço pessimista diante da alma humana, não é? Mas nem tanto. Vejo sim criaturas cuja singeleza e pureza ainda sejam notadas. CRIANÇAS. Essas sim! São capazes que chegar até o outro depois de extenuante jornada de trabalhado e de afazeres domésticos e ainda dizer, de modo desinteressado e puro: "Mamãe, você é tão linda!" Entretanto, passa o tempo e vem os adultos deformá-las com preconceitos, interesses, vaidades, orgulho e tudo mais que vai impedindo de haver até mesmo um elogio descompromissado.

E o engraçado que nós, "sem deformidades", nos achamos tão mais e melhores que aqueles citados no início. Além das crianças, só mais um que não se deforma: O Criador. E para a sua criatura: misericórdia mesmo, afinal ao humano nem sempre se atrela a humanidade. E acabamos nos rendendo à tentação de sermos humanos demais.

Claudine Almeida
Enviado por Claudine Almeida em 04/05/2017
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