BREVE HISTÓRICO DA “ESCOLA TÉCNICA
DE COMÉRCIO SÃO SEBASTIÃO”
 

Este artigo registra um importante capítulo da história da educação de São Sebastião do Paraíso, sobretudo, no que diz respeito à expansão do acesso à instrução escolar para os jovens trabalhadores, tendo em vista o oferecimento de curso noturno profissional. Seu autor dispensa apresentação para os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo na perseverante atuação em favor da cultura local. A divulgação do artigo acima transcrito, redigido há mais de três décadas, atende um postulado da história atual, que consiste em socializar fontes que possam ser lidas e interpretadas pelo próprio leitor. Sua publicação resultou do generoso gesto da família do saudoso autor, que disponibilizou cópia do texto original, contribuindo, assim, para ampliar o corpus documental para a escrita da nossa história regional. Nesse sentido, nossos agradecimentos à professora doutora Norma Aparecida Perrone Naves, por mais essa contribuição em favor da história escrita de São Sebastião do Paraíso. Luiz Carlos Pais


Carmo Perrone Naves
 
A publicação deste artigo, originalmente redigido pelo saudoso professor Carmo Perrone Naves, em 1985, é uma homenagem ao mestre que acompanhou os meus primeiros passos na seara dos números e das equações na “Escola Técnica de Comércio São Sebastião”, instituição de ensino médio que existiu em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, base inicial que permitiu, em 1991, defender minha tese de doutorado na Universidade de Montpellier, na França, tratando da arte e da técnica de ensinar Matemática. Luiz Carlos Pais.
 
            Em 1947, foi fundada pelas Irmãs Doroteias, em São Sebastião do Paraíso, Sul de Minas, a “Escola de Comércio Paula Frassinetti”, reconhecida pela portaria no 577, de 29 de novembro de 1947. Funcionava anexa ao prédio do Ginásio e Escola Normal Paula Frassinetti. Entretanto, o curso oferecido não alcançou o fim almejado. De funcionamento diurno e admitindo somente estudantes do sexo feminino, não logrou, nos dois primeiros anos, matrícula suficiente para o funcionamento normal do curso oferecido. As irmãs então resolveram, ainda em 1948, entrar em entendimento com Monsenhor Jeronymo Madureira Mancini e transferir a Escola para a Paróquia.
            Em 23 de julho de 1949, Monsenhor Mancini passou uma procuração ao professor Carmo Perrone Naves, para que este fosse ao Rio de Janeiro e conseguisse, junto ao Ministério da Educação e Cultura, aprovação da mudança do nome do estabelecimento para Escola Técnica de Comércio São Sebastião”, a mudança de direção para Monsenhor Jeronymo Madureira Mancini e do local de funcionamento, porque a escola já havia sido transferida para as dependências da antiga Escola de Farmácia e Odontologia, gentilmente cedida pela farmacêutico senhor Carlos Grau.
            Em 1962, entretanto, em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, passou a denominar-se Colégio Comercial São Sebastião”, ainda sob inspeção federal, cujo inspetor era o Dr. Antônio Arantes. Doze anos após, em 15 de abril de 1974, a mesma instituição passou a denominar-se, novamente, “Escola Técnica de Comércio São Sebastião”, pela resolução número 654, assinada pelo senhor Secretário de Educação do Estado, pois, agora, por força da própria Lei de Diretrizes e Base, a escola já estava vinculada ao sistema estadual de ensino.
            Em 1949, Monsenhor Mancini, com os bons ofícios do Dr. Pedro Aleixo, conseguiu que o Banco Hipotecário vendesse à Mitra Diocesana, a parte de um grande prédio a ele pertencente, onde a escola funcionava, onde, no passado, já abrigara outros dois estabelecimentos de ensino, primeiro o antigo “Ginásio Paraisense” e depois o Colégio das Irmãs Doroteias. Feitas pequenas readaptações, pois no referido prédio já havia funcionado um hotel, a escola mudou para o novo local, onde Monsenhor construiu, em duas etapas, em 1964, o novo prédio de dois andares para abrigar a Escola bem conhecida dos paraisenses, que funcionava, em 1985, à Rua Dr. Placidino Brigagão, no 1.275. O prédio foi construído com 13 amplas salas de aula, uma capela, duas salas para professores, uma ampla secretaria, uma diretoria e quatro recintos com sanitários, dois para o sexo masculino e dois para o feminino.
            Embora sendo uma Escola de Comércio, ela possuía em 1985, em sala própria, um amplo laboratório para o estudo de Física, Química e História Natural, pertencente ao já mencionado Ginásio Paraisense, que posteriormente recebeu a denominação de Colégio Paraisense, que passou a pertencer também ao patrimônio da paróquia, sob a direção de Monsenhor Mancini. O Colégio Paraisense funcionava no período diurno e a Escola de Comércio, no período noturno. Com a paralização das aulas e extinção do Colégio Paraisense, em 1982, por falta de alunos, seu patrimônio passou a pertencer à Escola de Comércio, inclusive a biblioteca. Desse modo, a Escola de Comércio passou a possuir duas bibliotecas, sendo uma delas doava pela Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático, do Ministério da Educação e Cultura. Na referida época, a Escola contava ainda com uma fanfarra com cerca de 60 componentes.
            Antes de assumir a direção da Escola, Monsenhor Mancini convidou o professor Carmo Perrone Naves para ser seu auxiliar, como diretor interno. Nessa ocasião, professor Carmo já lecionava Matemática e Geografia no Colégio das Irmãs Doroteias e na Escola de Comércio, esta anexa ao referido Colégio. A primeira turma de Técnicos em Contabilidade, sob a nova direção, formou-se em 1949. Havia também o curso básico de Auxiliar de Escritório, com quatro anos de duração, cuja primeira turma formou-se em 1951, pois esse curso não teve início no Colégio Paula Frassinetti. Em 1985, a Escola contava com 419 alunos matriculados, 119 deles cursando a 3ª série do Curso Técnico e que colaram grau em dezembro daquele ano.
            Com o infausto falecimento de Monsenhor Mancini, em 30 de abril de 1980, assumiu a direção Monsenhor Hilário Pardini, pessoa afável e bondosa, com larga experiência em ensino e a escola continuou o seu ritmo normal. Em 1985, o corpo docente era constituído por 35 professores, todos eles competentes e dedicados. Além do diretor, o corpo administrativo era composto pelos seguintes professores: Carmo Perrone Naves, Ilma Cruvinel Queiroz e Ana Maria Amorim. A parte disciplinar estava a cargo de Sebastião José da Rocha, Maria de Lourdes Guide Azevedo Dib e Vicente Inácio. Para encerrar, além de mostrar o crescimento do número de formandos, vamos mostrar, resumidamente, como decorrem os trabalhos nas três primeiras sessões de colação de grau nos anos de 1949, 1951, 1952 e na de 1968, bem como a relação do corpo administrativo, docente e inspetores do ano de 1949.
            No dia 10 de dezembro de 1949, no salão de festas do Grupo Escolar Coronel José Cândido, foi procedida a colação de grau da primeira turma do curso Técnico em Contabilidade, composta por quatro alunas, remanescentes do Paula Frassinetti. A sessão foi aberta e a mesa composta pelo diretor técnico, Carmo Perrone Naves. Presidiu a sessão o eminente político, literato e poeta paraisense, Dr. Noraldino Lima, paraninfo das formandas. O paraninfo foi introduzido no recinto, juntamente, com as diplomandas, pelos professores Hercílio Carnevale e Luiz Pimenta Neves. Essa turma era constituída por: Abadia de Pádua Vasconcelos, Maria Izabel Vasconcelos, Irene de Belo Dramis e Victa Aparecida Froes (oradora). Além do paraninfo e da oradora, usaram a palavra o saudoso diretor Monsenhor Mancini e a aluna Isna Caravieri, rainha das estudantes. A sessão contou com a presença do inspetor federal, Dr. Antônio Arantes.
            Em 1950, não houve formatura, pois quando a Escola foi transferida para a Paróquia, não contava com alunas matriculadas na série anterior. Em dezembro do ano seguinte, foi procedida a colação de grau de uma turma com 21 alunos, tendo como presidente da sessão e paraninfo, o reverendíssimo Dom Hugo Bressane de Araújo, digníssimo arcebispo coadjutor de Belo Horizonte e administrador apostólico da Diocese de Guaxupé. O orador da turma foi o estudante Sebastião Henrique da Rocha. Nessa ocasião, era secretária da Escola, a professora Maria Conceição Gonçalves Arantes.
            Em dezembro de 1952, foram 10 os formandos, que tiveram por paraninfo o ínclito homem público Dr. Pedro Aleixo. Damos ainda destaque a essa cerimônia por ter sido paraninfo, um grande benfeitor da Escola, como também por dois outros motivos. O primeiro porque, juntamente com os dez técnicos em Contabilidade, também foram diplomados os primeiros “Auxiliares de Escritório”, concluintes do chamado Curso Básico de Comércio, que teve início em 1949. Como já dissemos, para os componentes da primeira turma de técnicos em contabilidade, vamos declinar os nomes dos componentes da primeira turma de auxiliares de escritório: Altair Marinzeck, Ameny de Lourdes Mambrini, Gilberto Borges, Francisco Sales Ferreira, Haidêe Fressatti Leão, João Cechini, José Nascimento de Paula, João Dias Queiroz, Maria Dias de Souza, Maria de Lourdes Guidi Azevedo, Marília Azevedo, Maria Aparecida Gomes, Maria Elza do Nascimento, Nelson Gonçalves de Oliveira, Olímpio Siqueira Vilela, Selínia Pimenta Queiroz e Sebastião Marques Resende.
            O segundo motivo é que, em 1952, Monsenhor Mancini havia conferiu medalhas de Honra ao Mérito aos alunos classificados em primeiro lugar em cada série dos cursos oferecidos. Assim, no curso básico, na 1ª série, recebeu a medalha, Salvador Santos; na 2ª série, Maria de Lourdes Nascimento; na 3ª série, Zoraide Carvalho Lisboa e na 4ª série, José Nascimento de Paula. No Curso Técnico, 1ª série, Maria Abadia Figueiredo Westin; 2ª série, Luzia Gomes Nascimento e na 3ª série, Maria Aparecida Carnevale. De 1949 a 1960, a Escola de Comércio formou 149 Técnicos em Contabilidade. De 1961 a 1970, outros 289. De 1971 a 1980, mais 727 alunos se formaram e outros 380 concluíram o curso de 1981 a 1984, perfazendo um total de 1545.
            Como este modesto trabalho resultou de uma solicitação da Prefeitura Municipal de São Sebastião do Paraíso, vamos fazer uma referência oportuna, prestando uma homenagem ao excelentíssimo senhor prefeito, na semana comemorativa do 164º aniversário da cidade: Em 8 de dezembro de 1968, nos salões do Cine São Sebastião, juntamente com mais 34 formandos, João Mambrini Filho recebia das mãos do paraninfo professor José Ulisses Miliani, o diploma de Técnico em Contabilidade. Outra referência importante: a sessão foi iniciada com o Hino a Paraíso, cantado pelos alunos e presidida pelo Reverendíssimo Dom José de Almeida Batista Ferreira, Bispo Diocesano.
            Em 1949, o corpo administrativo era constituído por Monsenhor Mancini, Carmo Perrone Naves e professora Maria Conceição Gonçalves Arantes. O Dr. Antônio Arantes exercia as funções de inspetor federal. O corpo docente estava constituído por: Carmo Perrone Naves, Sylvia Soares Fontana, Ambrozina Naves Borges, José Emídio de Lima, José Molina, Francisco Alencar Assis, Dr. Hercílio Carnevale, Dr. Luiz Pimenta Neves, Dr. Jorge Fontana, Dr. Joaquim Ferreira Gonçalves, Alda Morais, Benedito Ferreira Calafiori e Adelina do Amaral Garcia. O senhor João Antônio da Silva exercia as funções de inspetor de alunos. São Sebastião do Paraíso, 23 de outubro de 1985.

Nota: Este artigo registra um importante capítulo da história da educação de São Sebastião do Paraíso, sobretudo, no que diz respeito à expansão do acesso à instrução escolar para os jovens trabalhadores, tendo em vista o oferecimento de curso noturno profissional. Seu autor dispensa apresentação para os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo na perseverante atuação em favor da cultura local. A divulgação do artigo acima transcrito, redigido há mais de três décadas, atende um postulado da história atual, que consiste em socializar fontes que possam ser lidas e interpretadas pelo próprio leitor. Sua publicação resultou do generoso gesto da família do saudoso autor, que disponibilizou cópia do texto original, contribuindo, assim, para ampliar o corpus documental para a escrita da nossa história regional. Nesse sentido, nossos agradecimentos à professora doutora Norma Aparecida Perrone Naves, por mais essa contribuição em favor da história escrita de São Sebastião do Paraíso. Luiz Carlos Pais