No dia dos avós, uma lembrança

Ontem no mercado, enquanto fazia compras, a voz infantil e alegre de uma menina de uns cinco anos chamou minha atenção. Estávamos no setor das frutas e ela conversava com seu avô que, assim como eu, escolhia tomates. “Vô, depois vamos comprar suco, né, aquele que eu gosto!? Por que você pegou esse tomate?! Está verde! Vamos pegar laranja também?”, dizia ela, tendo cada pergunta sendo respondida pacientemente pelo avô sorridente. Não me contive e comentei: “Então o senhor tem uma ajudante de compras?!”. Orgulhoso ele respondeu: “Essa aqui é a companheira do vô. Quando está disposta, me faz gastar o dobro no mercado”, disparou, sem parecer se preocupar com o possível ‘rombo’ em seu bolso quando chegasse ao caixa. Falou orgulhoso das peripécias da neta, parecendo muito feliz pelo simples fato de tê-la ao seu lado.

A cena me marcou. Não tinha como não lembrar do meu vô e das inúmeras vezes em que ele me levou consigo para todos os lados, mesmo sabendo dos possíveis (e quase sempre prováveis) ‘rombos’ que daria em seu bolso ao querer um sorvete, um algodão doce, um pirulito gigante ou um cachorro quente da barraquinha a cada esquina que passássemos. Hoje, adulta, lembro que no fundo ele adorava isso, fazer eu me sentir feliz comprando todas as besteiras que eu pedia.

Hoje, relatando a cena de ontem ao Alessandro, não me contive em recordar de uma determinada ocasião, também ocorrida em um supermercado. Eu tinha por volta de quatro ou cinco anos e dias antes havia ido na casa de uma coleguinha e sua mãe nos serviu sucrilhos com leite. Dias depois enlouqueci a cabeça do vô, porque queria a todo custo sucrilhos. O problema é que eu não sabia que era assim que se chamava, apenas recordava que “vinha em uma caixa azul com um tigre desenhado na frente”.

Na hora, prontamente ele me levou ao supermercado e devemos ter ficado pelo menos uns 30 minutos correndo pelos setores em busca da tal caixa azul que tinha um tigre desenhado na frente. Hoje, lembrando carinhosamente desta ocasião, percebi que ele podia simplesmente ter pedido ajuda a alguém do supermercado. Mas não. No fundo, o desafio de passear comigo falante pelos corredores era muito mais interessante. Pouco importava se a caixa custasse R$ 1, R$ 10, ou R$100. Nossas conversas valeriam cada centavo, assim como o meu abraço nele depois que ele me dissesse: “Tá, ganhou o que você queria, agora falta o que mesmo?”.

Enfim, lembrar cada momento ao lado do meu avô me acalenta, embora me leve para longe e me faça imaginar como seria se ele ainda estivesse aqui. Voltando à realidade, só me resta a agradecer por ter tão boas lembranças. Ah, encontramos o sucrilhos e eu comi a ponto de ter dor de barriga. E a menina do mercado e seu avô compraram o suco que ela gosta.