Pagando a conta

Dei-me um tempo para amadurecer as idéias antes de colocá-las no papel. Foram muitas as influências nefastas que me atingiam todos os dias através do noticiário, com sua destilaria de pessimismo e desesperança derramando sobre nós. Vi de repente o meu Brasil se tingir de cinza. Descobri que apesar da minha implacável fome de leitura, eu não soube ler nas entrelinhas o quanto somos reféns dos podres poderes, o quanto somos sugados pelos vampiros de gravatas que detêm nas mãos a riqueza do nosso país. Sem querer generalizar, nossos indignos políticos se armaram de mil e uma artimanhas para terem lucro e riqueza em tudo que se constrói e se negocia no público e no privado da nação, se escondendo sob conchavos com a mídia e escoltados pelo vergonhoso foro privilegiado. Perdemos pelo caminho aqueles que tinham como ideologia lutar pelos interesses do povo. Foram contaminados pelo jogo sujo do sistema de propinas que se institucionalizou nos órgãos governamentais. Descobriram o veio do enriquecimento ilícito, de forma rápida e eficaz, saqueando os cofres públicos e cobrando caro para facilitar contratos de empreiteiras e prestadores de serviços. Um acobertando o outro. Sem fronteiras, sem divisas, sem bandeiras. Todos são farinha do mesmo saco. Um dando guarida para o outro levar vantagem, e exigindo a parte que lhe cabe por fazer vista grossa ou manter o bico calado. Enquanto isso, as contas engordam no exterior, os patrimônios se duplicam em nome de laranjas, e os nossos dignos representantes, de repente estão com várias gerações de sua família com o futuro garantido com as riquezas adquiridas na calada da noite. Enquanto isso, a saúde padece com hospitais à míngua. As escolas padecem com os professores insatisfeitos com o mísero salário que mal lhes garante a sobrevivência, que dirá a dignidade. A economia retrai e o desemprego aumenta, espalhando o desespero e a desesperança por milhares de lares no país afora. Os projetos sucumbem e a justificativa é uma crise que foi muito bem construída para atender aos interesses de um governo que quis sobrepor-se a outro. E os culpados, no fundo somos nós mesmos. Fomos nós quem os colocamos lá, demos carta branca para cuidar dos nossos interesses, sem muitas vezes questionarmos se estavam à altura de tamanha responsabilidade. E agora, que as coisas começaram a se complicar cada um tenta salvar a pele para escapar do linchamento político que todos que não honraram seu cargo deveriam sofrer. Mas escaparão... Têm nas mãos as armas que lhes permitem mudar o rumo das coisas e legislar a seu favor. O prejuízo de suas falcatruas tem quem pague. Basta deixar de investir para o crescimento humano, reduzir as obras e repasses para equilibrar as contas, que a balança econômica se equilibra sobre as nossas costas. E se for preciso arrecadar mais recursos, basta criar mais impostos, aumentar tarifas, gerar divisas para minimizar o déficit. O povo que pague. Se não com mais cobranças, porque não com sacrifícios, como trabalhar meio século para ter direito a uma mísera aposentadoria? Afinal, o que são 49 anos? Joga-se uma pá de cal sobre uma Constituição que guardava nossas conquistas e com uma simples emenda, enterram-se todos os direitos trabalhistas pelos quais tantos lutaram para conquistar. É muito triste imaginar o nosso país no futuro. Um país onde os mais pobres e mais fracos irão pagar com o suor do rosto a conta da pirataria política que solapou nossas riquezas. E se hoje está ruim, não irá demorar muito para que tenhamos saudade do hoje que amarga, mas que ainda nos respeitam em nossos direitos. Pelo menos, até agora...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 03/04/2017
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