Envelhecer

Envelhecer é viver as mudanças diárias. Sentimos a presença delas. Só causam amargura se vierem acompanhadas da não aceitação. Se não aceitarmos que já não somos o que éramos, nosso convívio com o aqui e o agora fica penoso.

Envelhecer é natural, com lentas perdas no início e mais rápidas depois, mas, aceitando que a vida é assim, em permanente transformação, podemos ficar serenos e transmitir, a quem nos rodeia, a ideia de que compreendemos o que nos acontece e de que estamos presentes, acompanhando o processo. A memória é uma capacidade ingrata. Demoramos algumas vezes nos lembrar de alguma coisa e a conversa fica entrecortada de silêncio. Podem sumir os nomes próprios, os substantivos comuns também se embaralham. Interessante é que os adjetivos não somem. Aparecendo o nome, sua qualidade vem junto. Os verbos não somem, mas as ações deixam de ser feitas com presteza.

É falso dizer que a terceira idade é maravilhosa, mas muitos conseguem vivê-la sem amargura porque acompanham as transformações dos que ainda estão ganhando. Isso se expressa no convívio com os filhos, na alegria diante dos netos e dos bisnetos, nas reuniões da família, na preservação da amizade, na união, na dedicação.

Muitas vezes esquecemos o que está presente e passamos a lembrar o passado. Não há incoerência nisso, pois o antigo já se transformou em imagem e a imagem nos reativa as sensações. Na atitude de recordar o que já vivemos, há doses de aceitação e de generosidade. Nosso comedimento funciona como conforto para quem já está na caminhada e para quem está só começando. Admirar com olhar bondoso suas conquistas é sabedoria. Não é um reviver nem um renascer: é uma memória. É vislumbrar o caminho que todos irão seguir.

Lindita
Enviado por Lindita em 01/04/2017
Reeditado em 01/04/2017
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