Dircinha Batista

     1.
Linda foi primeiro. O ano, o mês, o dia? No momento, não me recordo. Oh! Meus ídolos! Quantos já partiram... De repente acabo, não diria me esquecendo, mas perdendo de vista a data exata de suas mortes.
     2. Da velha guarda, restam poucos. Já morreram o Nelson Gonçalves, o Luiz Gonzaga, o Carlos Galhardo, o Silvio Caldas, o Alcides Gerarde, a Dolores, a Elizeth, a Dalva, o Celestino, o Chico Alves, e o divino Orlando Silva, o cantor das multidões.
     3. Com eles também desaparecem canções de notáveis compositores como Custódio Mesquita,  Cândido das Neves, Cristovão de Alencar, David Nasser, Benedito Lacerda, Nássara, Ary Barroso e Lamartine Babo.
     4. Dircinha e Linda, as irmãs Batistas! Elas foram, durante muitas décadas, as donas absolutas de imensas e trepidantes platéias, nas praças públicas de todo o Brasil; e arrebentaram nos programas de auditório das rádios Tupy, Mayrink Veiga e Nacional todas do Rio de Janeiro.
     5. Dircinha foi a primeira Rainha do Rádio, idos de 1937, e teve como sucessora, entre outras, Marlene, Emilinha Borba, Angela Maria, Linda e Dalva de Oliveira. Era a época de ouro do rádio no Brasil.
     6. Hoje, 18 de junho de 1999, aos 76 anos de idade, morreu Dircinha Batista. Em um incompreensível e ingrato ostracismo, ela viveu seus últimos dias preza a uma cadeira de rodas, hospede solitária da Casa de Repouso Doutor Eiras, no Rio de Janeiro.
     7. Quem esteve com ela nos dias que antecederam sua morte, confirma que Dircinha se dizia profundamente magoada com a mídia e com seus fãs. Dirce Grandino de Oliveira morreu de "insuficiência respiratória, agravada por uma cardiopatia", atestaram os médicos que a atenderam, no Hospital São Lucas, em Copacabana. No bairro em que escreveu grande parte de sua história, ela saiu de cena...
     8. Virão, agora, as homenagens póstumas. Homenagens póstumas? Ora, bolas! Quando Dircinha mais precisou do abraço amigo e confortador dos seus fãs, foi por eles esquecida.  Atravessou, sozinha,  suas horas mais amargas...
     9. Querem homenageá-la? Ouça seus discos. Curtam, por exemplo, Se eu morresse amanhã de manhã, do inesquecível Antônio Maria; e outras canções, sambas, marchinhas e sambas-canções que ela, com perfeição, cantou, alegrando várias gerações.
     10. Rabiscando esta crônica, com saudade da Dircinha Batista, estou ouvindo Aperto de mão.  Ei, Dircinha, que a terra lhe seja leve...
               *  *  *
(PS -  Escrevi esta crônica no dia da morte da Dircinha - 18.6.1999. Não queria que ela permanecesse, indefinidamente, escondida nos meus arquivos. Por isso, no Cantinho da Saudade do meu site, transcrevo-a, com carinho.)
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 06/08/2007
Reeditado em 21/10/2017
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