Vamos, Satanáses!

Se todos os sentimentos reprimidos saíssem do meu peito pela boca, eu morreria asfixiado e meu mundo afogado.

Justamente por serem sentimentos intensos e violentos que eu os reprimo. E quando não há mais capacidade e não tenho condições de aumentar a capacidade de espaço, eu derreto esses sentimentos em lágrimas e bolhas de ar presas na garganta e desopilo um pouco.

Neste momento me sinto leve, sem pesos, parece que some algumas nuvens da minha cabeça e eu consigo estabelecer a ordem novamente.

Me disseram: se não pode destruir seus demônios, os domine.

Meu peito é imenso, com celas para amores não correspondido, prazeres, memórias, sentimentos, mentiras apreendidas em flagrante com qualificação.

Minha mente é um labirinto onde solto todos os meus demônios e os deixo se divertirem, uivarem, fazer estardalhaço, barulho e que se acalme. Não raro, os deixo passar fome de atenção e de carinho e, bem, um motim se instaura. Meu cérebro sempre diz: xiu! E o mundo se cala.

Eu gostaria de não ter mais medo. Aguardo com grande expectativa o meu Tempo das Luzes, dando fim à esse período de Trevas que me assombram e tiram meu sono durante a noite. Eu queria perder o medo do desconhecido - que não são tão desconhecidos assim.

Espera aí, noto que meus medos são dos finais que sempre são "infelizes para sempre". E, nesse caso, o "para sempre" nunca acaba.

Ok, resolvi levar meus demônios para um passeio na praia. Talvez eles se acalmem e me deixem dormir durante a próxima noite.

Por ora, vou levar alguns, pelo menos os maiorais, para passearem no mundo da imaginação da felicidade inexistente, borrada e cinzenta.

Orações não me ajudam. Deus se esquece de mim. Judas não me ouve, ele está no monte, saltando da oliveira rumo à morte. São Pedro está muito ocupado com a recepção do Céu. Santa Maria está ocupada protegendo os motoristas da empresa de ônibus de Natal/RN ou zelando pela alma daqueles que clamam "agora e na hora de nossa morte", porque morremos todos os dias, todo instante células morrem, um câncer se desenvolve, o HIV se apossa do seu sistema imunológico, sua mãe dorme, seu pai está em algum bar da vida, entre putas como um cafetão.

Vamos, Satanáses! Preciso lhes acalmar com um pouco de ar fresco para a minha cabeça e lhes alimentarem com abraços vagos e sorriso falsos.

Diego B Fernandes Dutra
Enviado por Diego B Fernandes Dutra em 17/03/2017
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