[A bailarina]
A luz e a escuridão estão se fundindo num transe intenso. Uma forma de mulher aparece por entre as cinzas: ela baila, seguindo uma melodia pura e clara, vinda diretamente da fonte. Seus passos são loucos e seu ritmo é complexo: declama, pelo seu corpo, uma linda poesia em movimento. Segue seu caminho, voa, cai, levanta-se e continua (passa por tudo como s’estivesse em fuga sem sair do lugar como s’estivesse sedenta suand’em bicas como s’estivesse faminta gastando sua energia como s’estivesse ébria ‘stando sóbria como s’estivess’à beira da mort’estando renascida). Mas para, por fim. Mas para, por quê? Olha para o vazio procurando por uma fagulha que lhe possa fazer-se sentir viva. Olha para o vazio procurando por uma verdade que lhe possa dar um sentido. Sorri e, de repente, volta à sua loucura tenaz: encontrou o que queria.