Despedida


Não, não o quero mais. Com ele já vivi tudo o que tinha pra viver nesta encarnação. Foi bom, bom demais cada segundo. Querer viver novamente aqueles momentos seria querer reviver o passado. Agora preciso de um futuro, nem que seja sem “alguéns”, mesmo que seja só comigo. Quero um futuro de descobertas, lugares novos, risadas novas, novos assuntos. Preciso respirar outros climas, de me envolver com o caminho novo que se oferece a cada dia que começa. Aproveitar o canto da natureza sem pressa, sem compromisso. Doei meu tempo e ele nem viu o tempo passar. Nem percebeu minha intensidade, só eu fui intensa. Fui algo que ele nem percebeu. Sinto muito, já passou. O que restou foram ótimas lembranças, vou guardá-las, talvez até pinte uma aquarela, faça um ou dois poemas com elas. Agradeço todos os dias por tudo que vivi. Acabou, virei a página. Foi difícil, sinistro, pesado, mas consegui sair do túnel e cheguei naquela luz do final. Vi que esse final nada mais é do que um recomeço. Quem perdeu? Eu tenho certeza de que saí mais rica, então ganhei. Perder é uma questão de ponto de vista, uma questão de como se pesa perdas e danos. Não tive perdas e nem danos, saí inteira, renovada, com mais experiência. Danos? Nem pensar, quando se adquire experiência a palavra “danos” parece até engraçada, sem sentido. Estou aqui, aberta a mundos novos, experiências novas. Arrumei minha mochila, nela cabe tudo que preciso, olhei o mapa e descobri muitos caminhos, estou ocupada demais comigo mesma, quero caminhar, sentir minha presença, dar meus próprios passos. Não quero cobrar e nem ser cobrada, quero entrar em contato com o universo, aprender novas preces, meditar em outros portais, mergulhar em outros mares. Descobri que sou inteiramente capaz de seguir em frente. Estava com medo dessa nova fase em que me vi sozinha, é estranho quando de repente você tudo pode. É difícil entender que agora minha hora quem faz sou eu. Foram muitos minutos divididos entre esperas, dúvidas, prazeres. Agora sinto o prazer imenso de me pertencer, de sentir prazer sozinha. Não estou me despedindo da vida e sim do meu passado. Estou entrando no portal que se abriu a minha frente e só agora eu vi. Estou entrando no meu futuro.
Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 26/02/2017
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