Historias da vila - De passagem

Historias da Vila

De passagem

A vila era constituída pela sua maioria de famílias tradicionais, e moradores antigos, más isto não impedia que indivíduos e personagens, de outros lugares, vinham a fazer parte das suas historias, e buscando nas lembranças nos deparamos com varias figuras, que por lá passaram e de alguma forma deixaram marcado na comunidade suas existências e procurando não cometer injustiça e sem menosprezar nenhuma outra, vamos falar neste curto espaço, de três pessoas que exemplificam esta nossa narrativa.

No bar da D. Luiza o jogo de sinuca corria solto, a cachaça era fartamente consumida e gritos, conversas e gargalhadas se misturavam em uma verdadeira torre de Babel, sentado em um canto nos deparamos com um crioulo, forte de expressões marcantes, trazendo em seu semblante um misto de sabedoria e desalento, era o Ildeu, uma pessoa que despertavam em nós uma curiosidade tamanha. Era chapa de caminhão na Guaicurus, descarregava ali os caminhões de cereais, uns diziam que ele era do Rio de Janeiro, era oficial da Marinha e que após uma traição amorosa veio parar em Belo horizonte, propriamente na vila. E outras versões eram ventiladas, o que pelo que sabemos isto nunca foi confirmado.

A vila Ambrosina, era dividida por duas regiões, a vila do seu Zico e a vila do touro, na vila do Touro tinha um Senhor que tinha vários barracos de alugueis, fazendo assim uma alta rotatividade de moradores e quando os moradores da vila do Sr. Zico tinham que ir para a Av. Amazonas, parque de exposição da gameleira e região, usava encurtar o caminho atravessando a pinguela do rio que ficava na vila do touro. Para isto tinha que passar em frente a estes barracos. Éramos crianças, quando ficamos sabendo que ali estavam morando um famoso personagem da vida boemia da capital, personagem este que detém até hoje o recorde de entrada no Hps (hospital de pronto socorro), e em um misto de medo e curiosidade, torcíamos para vê-lo, o que era difícil, porque assim como o sol e a lua os nossos horários nunca batiam, até que um dia as pernas tremeram, porque estava ali em nossa frente o conhecido Cintura Fina, homossexual, bom de briga e de navalha, más por sorte o mesmo passou e nem deu bola para nós, kkk.

Carioca, era assim que todos o conheciam ninguém sabia seu nome, sua procedência, sua historia, quando chegou despertou desconfiança e medo dos moradores, sua figura chamava atenção, só andava sem camisa, olhos vermelhos, magro e de boa estatura trazendo junto ao peito uma quantidade de colares, alguns feito de dentes, que ele dizia que era de cachorro. Era figura constante nos botecos, sempre alegre e barulhento, culpa do seu inseparável pandeiro. Também trabalhava de chapa, e fazia pequenos serviços de ajudante. Na vila constituiu família, ganhou confiança de todos e assim como chegou, ele em um acordo com o pai maior, se foi sem se despedir, sem dar aviso.

Charles Vagner
Enviado por Charles Vagner em 24/02/2017
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