– As malas da v(ida)

Acordei e a tristeza bateu em meus olhos. O primeiro pensamento que tenho ao acordar tem nome, sobrenome e endereço. Normal eu acordar e lembrar de quem esteve comigo por 3 anos, é normal não é? Estou desapegando eu sei, não é porque todo dia entro no whatsApp esperando um “Bom dia” que eu esteja colocando expectativa…

Claro que não é expectativa, é apenas uma mensagem, só isso, uma mensagem. E como sempre só o grupo da família e o do trabalho tem mensagem. Tudo bem, talvez amanhã chegue o “bom dia”. Levanto e vou até o banheiro e me encaro no espelho enquanto meu pensamento novamente bate na porta do passado. Carrego malas cheias de bagunças pra todo lado todos os dias. Escovo os dentes e lembro de quando a gente brincava de um empurrar o outro pra ver quem tinha a pia somente pra si. Hoje sou só eu e a pia. Consegui me atrasar como sempre, então chega de pensar que eu preciso me arrumar.

Antes de sair passo a mão nas chaves do carro e no celular e me deparo com um bilhete antigo escrito “Quando chegar olhe na geladeira, comprei seu bolo favorito” e as lembranças me atacam novamente.

Na garagem entro no carro e coloco minhas malas com as minhas bagunças no banco de trás. São tantos problemas, que guardo em malas pra facilitar. Carrego comigo um amor mal resolvido, brigas com meus pais, amizades que um dia se foram e guardo tudo o que prometeram, carrego comigo problemas alheios, sentimentos tristes e por fim minhas crises existenciais. Tudo dentro de malas, carrego pra todo lado.

São tantas tralhas que mal sei o que carrego comigo todos os dias. Todo dia levanto querendo voltar pra cama, porém precisamos viver não é? Qual é, eu sei que sou sentimental demais e preciso mudar de vida, chega de se agarrar ao passado. Eu falei isso? Sim eu falei “Chega de se agarrar ao passado” ainda soou estranho. Paro o carro e desço, é uma pista reta que só tem um vasto matagal nas extremidades. Olho e não vejo ninguém e nem um carro à vista. A lágrima desce e não consigo me conter, choro como criança encostada no carro, não me importo que alguém veja essa cena melancólica.

Coloco todas as malas na rua, e as deixo no meio da pista e entro no carro sem olhar pra trás. Dirijo secando as lágrimas e sorrindo porque tive a ousadia de largar tudo e seguir em frente, sei que é vergonhoso deixar todas aquelas tralhas no meio da rua, mas eu precisava.

Agora é viver o presente, o passado já está no passado, não posso mexer nele e nem quero, o caminho será escuro mas um dia encontro a luz e talvez eu encontre a felicidade.

Nossas escolhas influenciam no nosso presente e quem sabe no futuro.

Rahissa Lopes

Rahissa Lopes
Enviado por Rahissa Lopes em 21/02/2017
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