Mulher x Pneu (contratempo)

Nunca sei como começa a contar uma história, por isso é que sempre começo falando que não sei começar. Porque o começo que é difícil se já está começado e é só seguir, enfim, começo por uma informação. Alguns não sabem mas eu tenho uma sina, a sina do contratempo, imprevisto, essas coisas de mal feito, não chega a ser azar, mas acho que sorte não é, definitivamente. E antes que me julguem ser estabanada já vou mandando a real, sou super, hiper, mega, ultra, delicada. É coisa de falta de sorte mesmo, porque de colar o olho com super-bonder, a perder 200 reais (coisa pouca, só que não) até fraturar o osso da bacia, de tudo já me aconteceu um pouquinho. Enfim, ano passado nessa mesma época saí de casa sozinha por volta das seis da manhã para conseguir uma vaga de uma consulta de rotina na cidade vizinha. Eu sempre acho que deveria ter uns sinais pra avisar que vai dar merda, mas toda vez o sinal chega atrasado, isso quando chega. Nesse caso quando entrei na BR 153 (meu único caminho) começou uma chuva, dessas bem fortes de não permitir a visibilidade, as 6 no horário de verão, então nem se fala, a essas horas meu pisca alerta já estava ligado, o meu e o do carro. Segui devagar, pra não contrariar minha fama de teimosa, até um pouco depois da metade do caminho. Eis que me surge no lugar do meu pneu dianteiro do lado do motorista um buraco ENORME, IMENSO, um atentado a Nossa Senhora do Asfalto. Pra não contrariar minha fama de gostar de um mal feito, escultei um barulho no carro, sim eu caí naquele atentado, um buraco adulto, mar de formiga. Pensei eu com meus botões, se acontecer algo logo o pneu murcha. Áh mas tinha que pensar? foi só concluir o raciocínio que o pneu murchou todinho tadinho, estava tão pomposo, parecia uma rosquinha cheia de açúcar que o buraco comeu. Agora vejam bem, tem necessidade desse buraco comer meu pneu?! Coloquei o carro no acostamento e comecei minha peregrinação, o celular sem rede, porque quando o negócio começa no mal feito ele faz bem feito. Saí do carro esperando um ser vivo com bondade no coração trocar meu pneu, nem sei quantos carros passaram por mim na chuva sem dar nem sinal de farol, contrariando uma coisa que minha mãe tinha me dito uma vez, de que homem quando ver mulher no prego o primeiro que passa ajuda. Olha mãe eu não sei te falar o que está acontecendo com esses homens, não se fazem mais Homens como na época da senhora.

No acostamento tava, lá mesmo fiquei, vestida como uma princesa cansei de dar o braço a torcer e resolvi eu mesma fazer o serviço. Afinal, qual a dificuldade de trocar o pneu, senão destarrachar os parafusos? N°, várias, inúmeras, infinitas... O macaco manual, eu fiquei com tanta vergonha de não saber pra que lado coloca no chão, como ele funciona que parecia que tinha alguém comigo naquela situação, me escondi atrás do carro para aprender, só pensando: - Ê Deus o Senhor estava querendo sorrir e me apronta mais essa, né não?!

Quando consegui desenvolver a parte do macaco, coloquei a chave nos parafusos e sambei, dancei valsa, sapatei encima dessa chave e o parafuso?! NADAAAAAAAA! 75kg gerando uma força da gravidade de 735 Newtons e NADAAAAAA! Foi nessa hora que apelei, APELEI FEIO! E comecei a falar:- Senhor, tem misericórdia, uma hora e meia parada na chuva, molhada que nem um pinto de granja, eu te sirvo, orei na hora de sair, não tinha umas provas mais fácil não?! O Senhor só me prova com esses trem difícil! Manda um anjo que a humana aqui não consegue fazer mais nada não. Acho que falei tão sentido, nem sei o que era lágrima ou chuva, que quando olhei pro lado vinham dois anjos descendo de um bitrem, rindo da minha performance de dança de rua encima da chave. Eu os abordei dizendo: - A próxima mulher que eu ver desiludida reclamar que homem não serve pra nada eu vou contestar mesmo, vai ser lindo. Serve sim! Pra trocar pneu! Eles trocaram, me deram um conselho e ainda me ensinaram numa chuva de molhar bobo. Pronto! O sufoco passou! Segui viagem, cheguei no hospital implorei uma vaga que no meu estado deplorável não era tão difícil de conseguir, porque ainda existem corações caridosos, graças a Deus, amém! Sentei a espera, e como sou dessas que acha a graça da des-graça liguei pra minha mãe e contei. Mãe antes de sorrir briga né, pelo menos a minha é assim, depois ela se preocupa pois eu estava toda molhada, e por ultimo sorri do meu desoriento. É normal! Quando eu desligo o telefone tem um senhor especificamente rindo de mim, aquela risadinha que a gente sente que não era de graça. Me perguntou de onde eu era, falei, e ele: - Áh te vi na estrada, achei que você estava com mais alguém, nem pensei que você precisava de ajuda. Caro leitor, eu não aguentei, a minha vontade eu juro que era abrir um buraco pra aquele senhor entrar, tão grande quanto o buraco que cai, o mutilei com os olhos, comi todas as minhas palavras e a metade da minha boca por dentro, respirei fundo, fingi que ele não sabia o que eu ia dizer e lhe disse: - Olha, quando o senhor vir uma mulher na chuva naquela hora da manhã, num trecho considerado tranquilo quanto a violência, ela não está acompanhada. Até porque mulher nenhuma sairia pra fora do carro se estivesse. Então, não custa nada ajudar! Ele sem graça concordou, porque a graça, que graça ele não sorria de graça. E eu? consultei e passei o dia inteiro com a roupa secando, sorrindo das histórias que meus netos irão ouvir, e esqueci dos conselhos dos meus dois anjos. Afinal um raio não cai duas vezes na mesma pessoa. CAI SIM! Pelo menos em mim caiu! Então antes que me esqueça MULHERES e homens (reparem no maiúsculo e minúsculo) que não sabem trocar pneu, aprendam para que lado torce o parafuso, pra não sapatear apertando o pneu. Aos homens, AJUDEM as mulheres a trocarem quando não sabemos ou vice e versa se for o caso!

Inté, espero que sorriem, não de mim especificamente, mas das porcarias, desventuras que nos acontecem vez ou outra. Ainda conto mais dessa fama de falta de sorte, um dia, quem sabe... Sorrisos largos, do tamanho daquele atentado, quer dizer, buraco!

Campinorte

07/02/17

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 07/02/2017
Reeditado em 07/02/2017
Código do texto: T5905520
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