Pingos de poesia

Há três dias, venho dizendo que iria caminhar/correr assim que acordasse, de manhãzinha. Há três manhãs que a chuva não dá trégua. Não é culpa minha não ter saído para fazer atividade física.

De tarde, hoje, lá pelas cinco, o sol apareceu, forte, corajoso. Eu, também, criando coragem, resolvi fazer a minha tão prometida caminhada.

Saí direto para a ciclovia, local perfeito, rodeado de árvores e silêncio. Apesar de que esse silêncio às vezes amedronta, mas "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador..." já no início da ciclovia, pois não avistei uma viva alma por perto. Sufocos que só uma mulher sozinha passa.

Corri uns 800m, até o cansaço me abater, sinal de que há muito não exercitava meus passos. Logo após, continuei a caminhada, tranquila.

Mais à frente, já fora da ciclovia, passei por várias pessoas, tentando cumprimentar uma a uma, como uma comunhão dos atletas em seu esforço de manter a vida saudável. Um sorriso sempre anima! Passei por um amigo e questionei "sozinho hoje?" "É", disse ele, "o povo ficou com medo da chuva!"

Chuva! Ora, o sol se mostrava tão lindo quando saí de casa, a chuva não vai aparecer justo agora. Andei mais uns 300 metros e ouvi um trovão. Ixi, ela vem sim. Dei meia volta, acreditando que já estava bom o percurso. Realmente, ela veio. Primeiro, muito fina, tranquila, de leve, quase brisa. Continuei no meu passo firme, sem correr, sem pressa. E começaram os pingos mais fortes.

De repente, uma música começou a embalar meus pensamentos: "Experimente tomar banho de chuva... Ô chuva, peço que caia devagar..." E os pingos apertando...

Um sorriso brotou em meus lábios, assim, sem querer. Quanto tempo não tomava um banho de chuva? Já escrevi uma crônica sobre isso, pular poças de chuva no quintal, delícias nas férias de verão!

E continuei minha caminhada, fechando os olhos de vez em quando sentindo os pingos em meu rosto. Apenas duas pessoas passaram por mim, já na ciclovia, mas demonstravam pressa. Será que estavam incomodados com a chuva? Bobos demais!!

Quando passava embaixo de uma árvore, sentia os pingos mais grossos e comparava com os demais.

A enxurrada descendo o caminho me impelia a chutar a água e correr, sorrir e cantar. "Singin'in the rain"

Será que só a mim que o banho de chuva causa essas estranhezas?

Cheguei à minha casa completamente ensopada, de corpo e alma lavados.

Nancy Nogueira