O CANTO

Comecei a cantar para usar o espaço grande da sala vazia. Lá fora, nono andar, sobe o som do trânsito bem barulhento e constante de São Paulo.
Bordo um pano e estou com lindas cores em linha de meada de seis fios. Quem borda conhece esta linha delicada e boa.
Uso muito a meada branca. Mas encontrei numa loginha em Vila Isabel esta linha em muitas cores, muitas variações de cada tom. Azuis claros, em vivos, em cor de mar, cor do céu, os tons mais lindos que tenho encontrado; esta linha é fabricada no Brasil.

Mas estou na sala grande e vazia  do apartamento da minha filha. Com cinco gatos. Todos estão em paz,recolhidos em seus macios corpos e em silêncio.
Meu bordado está indo em prazer e em cores suaves fazendo degradês.
Descansei um pouco e cantarolei uns sons.
 Minha voz saiu bonita. A garganta limpa, cantei como em ópera, pedaços da Mimi, outras musicas que vou misturando, num prazer de intervalo e paz.
Para minha surpresa boa, minha voz saiu linda.
Alto, sem ligar aos vizinhos que possam estar ouvindo.