PRETO NO BRANCO
Paulo Cesar Pinheiro, em minha opinião, o maior letrista vivo do Brasil, diz: “Parceria é um casamento que não cansa porque não há contrato nem cobrança...”
Assim o meu amigo e parceiro de tantas músicas, Eduardo Queiroz, um dia mandou-me uma letra para que eu musicasse.
O que eu não sabia era que, no afã de aumentar rapidamente sua produção musical, havia mandado a mesma letra pra outros possíveis parceiros de modo que quem primeiro fizesse a música seria seu noivo e consorte nesse casamento.
Antonio Tobias, que na época tinha acabado de sair da condição de estagiário do Clube do Camelo foi um desses candidatos a parceiro.
Dessa vez a inspiração chegou-me rápido e na reunião seguinte do Clube já estava mostrando aos associados. Todos gostaram, tanto que logo resolvemos gravar uma “demo”, pra incluir no nosso próximo show. O local escolhido pra fazer a gravação preliminar foi a casa do Tobias, que ficou na sua, sem dizer a ninguém que tinha sido incumbido da mesma tarefa. Nunca soubemos se ele chegou a fazer uma melodia ou se só ficou na intenção.
O fato é que fizemos um show, com o mesmo nome da música, no teatro Gabriel Hermes, onde a música foi cantada. Adivinhem por quem? Pelo Tobias.
A música virou um dos “hits” do Clube do camelo, tanto que repetimos em outros shows até que em um deles o Tobias, que havia se tornado o intérprete oficial da música, foi incumbido de apresenta-la e, na gozação, informou que aquela música era parceria, minha, do Eduardo e dele próprio, pelo menos na intenção, contando a história de sua frustrada participação.
Já o consideramos também nosso parceiro, se não na intenção, pelo menos na interpretação.
PRETO NO BRANCO
(Almir Morisson e Eduardo Queiroz)
Um dia desses, eu descarto a Marilena
Vou com outra pro cinema levantar meu baixo astral
Não é que eu queira falar mal dessa pequena
Que é um poço de problema e levou meu capital
Nos conhecemos numa roda de pagode
No período em que o bigode se trocava por milhão
E a palavra empenhada de um sujeito
Tinha quase o mesmo efeito que hoje tem o tal cartão
Tremi nas bases com o molejo da cintura
Daquele anjo de candura disfarçado em mulher.
Juntei os panos, utensílios de cozinha
E levei a danadinha pra morar no meu chalé
Tornei-lhe dama titular e respeitada
Mas convenceu-me a doce amada assinar um tal papel
Dando o direito a dinheiro, mordomia
E suíte, quem diria, no melhor arranha céu.
Vendi barato meu chalé pro Zé Pitomba
Tô vivendo feito pomba e a distinta ainda faz graça
Quando eu botar preto no branco tá fechado
Antes leio o tal tratado, assino sem beber cachaça.
Não sei quem criou o “lá laiá” do começo, meio e fim da música. Talvez até tenha sido o Tobias...
O pessoal gostou tanto que, de vez em quando, repetimos.
https://www.youtube.com/watch?v=4FaNRLSF_1c
https://www.youtube.com/watch?v=M9xiVOy5fC4
https://www.youtube.com/watch?v=eBrpCjEe5hU
A primeira gravação "demo" desta música encontra-se no:
http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/73410