de todo coração

Quem se importa que é tarde e que meus pensamentos voam por entre essas casas, prédios, bares, perfura o tempo como se tudo fosse parte desse momento, procurando sabe-se Deus o quê? E algo me diz que poucos se importam porque a maioria que está acordado a essa hora devora seus próprios muros, escolhem a melhor forma de não se afundarem na própria angustia ou nelas se esfacelam como se fosse morrer.

Minha vó sempre disse, o mundo é duro, a vida é dura, mas nunca dei o devido espanto que essa frase pede, já que minha barriga estava cheia e meu corpo jovem me garantia os olhares que me animavam e ainda havia na minha personalidade aquele ar pueril que nos garante sentimentos flutuantes e agradáveis.

Quando se é jovem tudo é claro, uma falsa claridade fruto de nossa pequena arrogância . "Não há porque sofrer, tudo é uma exagero dos mais velhos, que frustrados frustram os outros com seus dessabores, e o futuro é amplo e tudo que queremos é escolher sua esfera mais saborosa. O mundo é uma fruta madura pronta a ser consumida, e o espírito repleto de viço e otimismo não enxerga a penumbra que cerca cada coração. A dor é apenas uma abstração poética, ainda não doemos verdadeiramente, ainda não havia dado conta das coisas mais incontáveis.

Quando o espanto é possível pouca coisa é passível de espanto porque a vida já se abriu numa espécie de estupro espiritual, compreendemos finalmente nossos pais e sua imensa dificuldade de nos compreender, de amar, de ser, já que agora sabemos não compreender quase nada e desalojados de nossos enganos, não amamos tanto assim.

Tudo passa a ser um grande ermo, as poucas certezas cedem á uma existência movediça e estéril, a lama nos toca o coração que pensávamos reluzente, passamos a uivar dúvidas e cansaço. Há os que dirão o contrário, que o tempo nos ensina a amar, a ser, a comandar a vida conforme nossa vontade, é possível que eles existam, é possível tudo isso, mas essa dureza de que falo não se pode negar, pelo menos por aqueles que no tráfego do crescimento conseguiu levar junto o próprio coração, que não o perdeu nalgum abismo de seus caminhos.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 30/01/2017
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T5897493
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