TRISTE REALIDADE - Andando por BH

Há muito tempo não andava a pé pelas ruas de Belo Horizonte. Hoje, 25 de janeiro de 2017, precisei comprar algumas peças para o meu fogão e saí a procurá-las. Comecei pela Avenida Olegário Maciel, bem no início dela, pertinho da Rodoviária. Lá se encontra uma casa especializada em peças de fogões. Por incrível que pareça, embora se tratasse de peças tão simples, não encontrei. Então percorri a tal avenida, em busca de uma nova loja, e comecei a observar tudo e todos. Não querendo ver, mas vi, foram inúmeros moradores de rua, muito mal vestidos e sujos, dormindo em casinhas feitas de papelão, ao longo de quase toda a avenida. Alguns dormindo de boca aberta, barbados, esqueléticos, semblantes cadavéricos. Eles, pelo que pude perceber, fizeram das marquises de muitas lojas, desocupadas, em prédios com placas de “aluga-se”, seu espaço domiciliar. Continuei a caminhar, devagar, pensativo, e fiquei muito triste em perceber o quanto nosso mundo está judiado. Como há pessoas pobres e maltratadas em nossa cidade! Por todo lado foi possível ver o reflexo da pobreza e da miséria. Percorri um trajeto grande no centro de BH, do início da Avenida Olegário Maciel até o número 1386 da Rua Tupis, no Barro Preto. No caminho não faltaram vendedores de garrafinhas de água mineral. “Ô tio, água geladinha aí?” Outros oferecendo picolé, salgadinhos, bombons etc. etc. É que todos eles, imaginei, estavam batalhando para conseguir vender seus produtos, com certeza para garantir o sustento de sua família, cujos filhos deveriam estar aguardando pela sua chegada ao final do dia. Quem sabe levando um pouco de alegria para casa? Diante de minha experiência e observação, fiquei triste e, ao mesmo tempo, foi possível notar o quanto me senti incapaz e impotente de fazer alguma coisa que pudesse melhorar a vida de tantos de meus semelhantes. Olhe que Belo Horizonte é a terceira capital do país. Uma metrópole carregada de miséria, de descaso. Isso mesmo. Tão propagada por setores da mídia, como sendo uma linda metrópole, uma cidade maravilhosa de se viver. Ah, estava me esquecendo de dizer, percebi também o quanto nossa cidade está mal cuidada. Quanta sujeira, quantas ruas e passeios esburacados! No entanto, embora tenha me chamado a atenção esse aspecto, as pessoas foram o meu foco. Fiquei muito abatido. Procurei andar a passos largos e muito cuidadosamente, já que, se sabe que a cidade está cheia de malfeitores que, num pequeno descuido, poderiam afanar algum objeto de minhas mãos, como meu celular, por exemplo. Poderia ser facilmente assaltado. E aí veio o pensamento: ao mesmo tempo em que eu estava tendo pena das pessoas jogadas nas ruas, judiadas, surgiu o lado controverso: o medo delas.

Foi um dia exaustivo. Não pela caminhada, pelo esforço de andar a pé, mas pela tristeza de ver o quanto nosso mundo, especialmente as pessoas de minha cidade, estão sofrendo. É assim mesmo. Não é de hoje. Enquanto muitos estão no luxo... na fartura... no conforto, grande parte de nossos semelhantes está morrendo à mingua, não tem o que comer nem um teto para se abrigar.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 30/01/2017
Reeditado em 21/06/2021
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