DEIXA-ME VIVER

Quase sempre faço primeiro a letra de minhas músicas e depois espero a inspiração para fazer a melodia. Raramente faço as duas juntas, e mais raramente ainda, faço primeiro a melodia.

Frequentemente a ideia ou mote da letra surge de observações ou de acontecimentos do cotidiano.

Este fato ocorreu quando eu era presidente de uma ONG e repassei entre meus pares um artigo sobre o aborto com o título “Os mensageiros da morte”. Embora com um título chamativo, o autor fazia uma análise interessante sobre o problema sem nenhum fanatismo sobre sua posição.

Uma das participantes da ONG (Companheiros das Américas era o nome) ofendeu-se com o artigo, ou com o título dele, e distribuiu entre os companheiros e seus contatos um texto bastante ofensivo defendendo sua posição pró-aborto.

Independentemente de crença religiosa, sempre fui contra o aborto e respondi explicando minha posição.

Claro que minha contraditora só compreenderia meus argumentos se concordasse comigo sobre a definição cronológica do início da vida, ou se não fosse tão fanática a ponto de desprezar a lógica.

Sempre considerei o início da vida o momento da fecundação com o correspondente início da reprodução celular. Daí em diante já existe um novo indivíduo sendo formado, independentemente da vontade dos indivíduos que o geraram.

A mãe não é dona do ser que está se formando e sim apenas uma depositária da nova vida. Melhor dizendo, usando o termo jurídico, é apenas a “fiel depositária” do novo ser, com a obrigação de cuidar dele e protegê-lo.

Partindo dessa premissa o aborto é assassinato. É e deverá continuar sendo um crime e um crime dos mais covardes e abjetos, pois é perpetrado contra alguém que nem ao menos defender-se pode. A única justificativa para o aborto é a legítima defesa, ou seja, quando a continuação da gravidez trouxer riscos sérios e reais para a vida da mãe. Ainda assim deverá ser deixada à mãe a decisão de interrompê-la.

Eu seria ainda mais radical, embora talvez utópico, afirmando que não deveriam ser permitidos nem os abortos decorrentes de estupros. Nestes casos se, e somente se, a mãe não quisesse o bebê, o governo deveria ficar responsável por ele. Cria-lo e educa-lo. Afinal o estupro ocorreu porque o governo não proveu as condições necessárias para educar o pai nem para proteger a mãe. Eu ficaria satisfeitíssimo se meu imposto fosse usado dessa forma. Encontra-se, na literatura, a história de várias pessoas famosas, que beneficiaram enormemente a humanidade e que escaparam de terem suas vidas ceifadas por abortos. Steve Jobs, Cristiano Ronaldo, Celine Dion e Andrea Bocelli foram alguns deles, só pra citar nosso passado recente. Pesquisem declarações dos próprios na internet.

A música, bem, a música por enquanto é só poesia. Usei o artifício permitido pela licença poética de iniciar a frase com o pronome oblíquo, de modo a dar mais força ao texto quando se transformasse em música.

ME DEIXA VIVER

(Libelo contra o aborto)

(Almir Morisson)

Me deixa viver

Lembra que já foste como eu

Só célula, quando uma só, eras

Passaste a ser alguém depois da divisão

Logo chegaste a mais de milhão

Me deixa viver

Lembra que te guardavam da extinção

Como me guardaste depois da criação

E agora queres ceifar minha evolução?

Será que minha confiança foi em vão?

Me deixa viver

Justificativas achas de montão

Mas nada convence tua intenção

Cumpre com prazer tua função

De fiel depositária do meu coração

Me deixa viver

Não me mata, pois não nasci, mas já existo.

Meus olhos, meus membros, minha pele já estão

O milagre que Deus fez só ele pode desfazer.

Nunca tiveste direito, pois de mim nunca foste dona

Me deixa viver

Nada justifica teu ato covarde

Pois nem defender-me posso

Sei que vou nascer para morrer

Mas, pelo amor de Deus, pelo menos

Me deixa viver...

Essa foi uma das que mostrei pro Tynnoko fazer a melodia, mas não saiu nada. Eu também ainda não tive a inspiração certa para musica-la. Gostaria de fazê-lo, pois com música conseguimos uma divulgação maior da ideia, mas se não for possível fica mesmo só na poesia.