O Baloeiro

Os céus da cidade do Rio de Janeiro, em algumas épocas do ano, apresentam um desfile de balões coloridos. Um espetáculo bonito e perigoso. Quem são os responsáveis por isso? Os baloeiros. O que é um baloeiro? Um cara apaixonado por balões. Constrói, transporta e solta balões. É muito fácil apaixonar-se por balões, aquela engenhoca iluminada com uma cangalha de fogo subindo pelo céu noite à dentro e nos hipnotizando.

Tão bonitas como os balões são as acrobacias aéreas realizadas por pilotos acrobatas. Um piloto de acrobacia todo mundo já viu. Um cara que realiza piruetas numa aeronave, como fazem os componentes da Esquadrilha da Fumaça. Um espetáculo que encanta todo mundo.

Entre essas coisas arriscadas e belas também está a corrida de fórmula um. Façanha realizada por sujeitos que pilotam um bólido a 300 km por hora, arriscando a própria vida para curtir altíssima dose de adrenalina e ganhar, quase sempre, uma nota preta.

O que há de comum entre o baloeiro e esses pilotos? Todos realizam atividades perigosas. Todos fazem algo que as pessoas gostam de apreciar. Mas, algo essencial os diferencia. Os pilotos arriscam a própria vida, realizam uma atividade regulamentada, legal e não colocam em risco a vida de outras pessoas. E o baloeiro? Esse é um cara romântico, que embeleza os céus com seus criativos balões. Será? Não seria um marginal, já que pratica uma conduta tipificada na lei como criminosa? Ao contrário dos pilotos "malucos", ele não arrisca a própria vida, mas põe em risco a vida de pessoas inocentes. Por vaidade pessoal, coloca em perigo o vôo de aeronaves repletas de pessoas. Está se lixando para as recomendações das autoridades e da mídia sobre o perigo que representam os balões para as cidades, as florestas, as aeronaves e as pessoas. Faz muxoxo para as estatísticas fatídicas de acidentes e incêndios causados por balões. Isso é ser romântico? Não seria mais apropriado dizer irresponsável e criminoso? Por que há tanta complacência com esses indivíduos tão perigosos socialmente?

Imagine um desses baloeiros curtindo um tranquilo vôo com sua família. Subitamente, o piloto anuncia, perdemos uma turbina atingida por um balão. Vamos tentar fazer um pouso de emergência. Pânico a bordo. Todos se dão conta, da maneira mais concreta, do perigo que os balões representam para os aviões. E o nosso baloeiro, no que estaria pensando? Caraca! Que azar! Tinha que acontecer justo quando estou voando? Que piloto babaca! Não podia ter desviado desse balão? Será que ocorreria a ele pensar que o sufoco que está passando com os passageiros poderia perfeitamente ser evitado?

Será que a morte desse baloeiro numa espécie de armadilha que ele costuma armar para os outros poderia ser útil para conscientizar a confraria dos baloeiros? Quem sabe começassem a pensar antes de disparar seus lindos artefatos mortais para o céu? Alguém acredita nisso? Difícil crer. Nenhuma morte pode deter a marcha insensata da estupidez humana.

Domingos Sávio ferreira
Enviado por Domingos Sávio ferreira em 28/01/2017
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