instante bom

Depois de muitos meses, uma noite agradável me veio pra perto. O relógio marca duas da manhã e um frescor infantil e acolhedor me chega num sopro amoroso e desconcertante, e toma meu corpo e uma fluidez morna e sensual enche meu peito, os poros, como se soubessem, se arrepiam, numa irresistível tomada de mim mesmo.

A cidade lá fora, do lado de lá do portão, talvez não saiba dessa visita , já que não tenho certeza se essa suave convalescença dos sentidos chegaram a todos. Impossível trazer á memória os cacos de vidros, defuntos que vez ou outra pomos na consciência só pra nos atormentar, carrossel de cavalos selvagens, só o coração falando silêncio e misericórdia

A clareza se pondo como senhor e escravo, sem distinção. Impossível não perdoar nesse instável momento de entrega , amar, simplesmente como uma dádiva, como um deus livre e obsceno. Aproveitar a distração dos grilhões e respirar profundamente essa vida que temos , plena, mas também estéril. O amor também ama os desertos, e desespero é somente a ante sala da luz.

As gaivotas desgovernadas, influxo de insatisfação cedem e nos seus lugares, o néctar dos apaixonados. Quem já gostou de alguém sabe do que estou falando, pois quem amou sabe, porque todo amor é amor de Deus, todo gesto que compartilha é o divino se revelando, porque a glória da eternidade também está na formiga que trafega sob o sol do meio-dia. Evidentemente, não me refiro ao amor cartorário dos homens responsáveis que se priva da culpa, não por um bater de asas, mas por uma receita de como viver.Aqui, eu falo do que não se pode falar.

saber-se mito, vulto lunar, pássaro, infinito, tudo e nada, estar presente, e nascer o próprio parto, inclusive o grito da expulsão.Nada a esconder, sem pensar, o pensamento é uma árvore civilizada

E no prazer morno de estar livre, pouco importa o dia de amanhã, as catracas bancárias, o gesto infeliz de alguma esquina, não, tudo que importa é o sereno doce amoroso dos não confinados, , somente o abraço de um terrível mistério que estava camuflado e que se faz carne e brilho no interior da alma. Sem cartório, sem carimbos

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 25/01/2017
Reeditado em 25/01/2017
Código do texto: T5892113
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