Sobre ela mesma
Ela estava sentada em frente à janela. As nuvens, num movimento lento. Um ar seco, um cheiro de cigarro no ar. Ao longe, uns barulhos que ela não conseguia distinguir. Dentro, uma inquietação. Ela queria fazer tudo diferente, se comparava a outras.
Pensava, e então tinha a certeza de que tinha que começar de novo. E quantas vezes mais fossem necessárias. Queria parecer inteligente, mas os pensamentos fugiam dela. Ela só precisava dar início.
Uma página branca. E fazer tudo diferente; um novo dia, um novo sol no céu, um novo animo, uma nova vida. Mas o que fazer com o que ela deixou pra trás? Tudo que ela acumulou até ali? Simplesmente descartar? Ou guardar numa caixinha?
Começava a ventar. Vai chover, ela pensou. Mas a tempestade já estava acontecendo.
Ela pensou em quantas e quantas vezes ela quis ser outra. Ter outra vida. Outras oportunidades. Ter feito outras escolhas. Mas não foi isso, ela não era, nem podia ser outra. Ela era aquela que estava ali. Na tempestade. Com os cabelos ao vento.
Aquela era ela. E ela não sabia o que fazer.
E então, tranquilamente ela começou a escrever e de repente tudo fez sentido.
E ela percebeu, que mesmo que ela comece de novo e de novo, ela vai ser sempre a mesma.