Uma velha casinha assim

Na minha rua tem um bosque.
Na verdade, quase no final da rua tem uma propriedade do que foi, um dia, uma chácara, suponho eu.
Ali, em meio a plantas diversas, árvores frutíferas, palmeiras e uma horta, tem uma casa habitada, porém não conheço quem mora nela.
O que chama minha atenção sempre que passo por ali, é uma casa de boneca que repousa entre a vegetação, vivendo seus últimos dias.
uma casinha de boneca que já deve ter tido seus dias de glamour, pois percebe-se que num tempo bem remoto, foi pintada de cor-de-rosa. Hoje, desbotada, descascada, alquebrada, resiste ainda às intempéries, como se esperasse a menina para brincar. Uma menina, ou várias, deve ter brincado ali, com suas loucinhas de plástico e bonecas com cabelos de nylon num tempo que se foi. Janela pendurada no batente por apenas uma dobradiça, telhas quebradas, varanda sem parapeito, sol fazendo desenhos sombreados por dentro do único cômodo aberto.
Passei muitas vezes por ela me perguntando o porquê de não desmontarem aquela ruína que enfeia o jardim, mas me dei conta que por trás dela deve ter uma mãe saudosa que não percebeu que sua menina cresceu, ou talvez, esteja esperando uma netinha que não veio para brincar na casinha.
Mãe é mesmo assim, se apega até os últimos suspiros de uma lembrança boa para sobreviver ao futuro.
Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 22/01/2017
Reeditado em 08/02/2017
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