O luto
 
Quando o amor for chão e o pensamento nele for todo o arrazoado, o que não fez sentido deixa de ser movimento ou gesto. O cão de Pavlov abandona o homem de quem na verdade nunca foi amigo. Os sinos então só dobram em sinal de luto. Embora essa morte seja renascimento. O que não deveria nem sequer ter nascido não foi abortado, foi ruim; e roubou da existência preciosos momentos. Mas morre aquietado por um amor que aceita ver morrer algo já sem vida.

Se nós temos este algo doente moribundo, talvez uma tristeza invada o mar da alma, mas quem em si não morre, não morre por ninguém, talvez apenas ame, sem como ou o porquê, quando uma ventania o empurra além de si em ser cais sem quebra-mar, lugar de não retorno capaz de algum dia não querer mais ir.

A ausência da partida por não ter mais aonde chegar, parece verdadeira, mas é uma mentira. Mesmo quando a mente é o vazio da vontade a maltratar o corpo enquanto o coração resiste. O não fazer de si o que se fez em não ser, agora, está morto para o sobrevivente sentir este vazio ser importante espaço, onde já move a mão em um primeiro gesto. Uma alegria estranha, porque desconhecida antes, assalta sem rompante o espírito e o corpo, que quando estão juntos conduzem à paz e à felicidade.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 21/01/2017
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