Meus naufrágios...

Nas lembranças de cada um dos meus naufrágios, o furacão que destruiu Roma depois de ter experimentado todos os caminhos que poderiam me fazer chegar até ela. Um conjunto de erros, feridas e cicatrizes curadas com saliva. O abraço dado a tempo, antes que o vento levasse as minhas cinzas depois do incêndio. O desejo de sobreviver a mil marés, e os pregos aos quais me agarrei a arder, as pás que atravessaram a minha pele, pensando que eram a mote dos meus dedos. A arma usada em minha têmpora enquanto ouvia a minha música favorita, e dancei enquanto chorava. A história da vez que me apaixonei pela catástrofe antes de um coração. São as mil lágrimas que sorri, e os mil sorrisos que chorei...

Dizem que um mar calmo não faz marinheiro. Mas não contam que a imensidão do mar já afundou barcos e tripulações sem tempestade alguma. Que a enterrado sob o manto das suas águas, choros de sereias, e contém histórias que nunca ouvirá nenhum mortal espalhados pelo deserto de areia submersa, gritos congelados em suas florestas de recifes. Cansado, espancado pelo sol escaldante e remando sempre, sempre contra a corrente, a erguer-se até os céus com o fluxo e o refluxo das ondas gigantescas, para uma vez atingido o horizonte de eventos se precipitar no abismo, onde todos os que decidiram lutar, antes esperaram. O coração pede para remar, mas a cabeça diz para parar e soltar os remos, que arreie as velas, para não faltarem forças, que simplesmente se deixe levar, que abandone a vida e deixe para trás os únicos fundamentos que conheceu. Talvez amadurecer é saber que podes dizer adeus sem ir, e ir embora sem dizer adeus. Todo o medo que guardo entre as costelas parece bater freneticamente em cada pulsação. Aceleram a sistólica e diástole. A Banda da tristeza toca o tambor e pode chegar a ouvir o coração, essa couraça danificada, salva-vidas que parece afundar. Não se aprende a ser forte de uma noite a um nascer do sol, não se aprende a ser corajoso correndo a frente do medo. Me olho no espelho e vejo alguém que tem uma promessa, mas só vê precipício, que pode destruir um coração que nunca encontrou o seu lugar. E então, como o marinheiro prediz tempestade, pede terra e salva-vidas, mas só encontra um barco feito com a pele de um poeta que navega à deriva. Há esta a crônica da morte anunciada, vendo passar todas as folhas das margaridas no outono de um oceano, todos os espinhos das rosas sobre meu caixão. Porque este é o epitáfio, da história do um naufrágio.

Bem-vindos ao meu naufrágio.

Vil Becker
Enviado por Vil Becker em 21/01/2017
Reeditado em 21/01/2017
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