ABC OU 1 2 3 ?

Ultimamente, as letrinhas têm sido para comigo, de uma rebeldia imperdoável...Sofro, sempre, tanto, quando desejo alinhá-las de forma harmoniosa, clara e sucinta e as danadinhas zombam de mim e dançam um ballet de linhas tortas e sem sentido. Tenho, por isso, pensado em migrar para a área das exatas, onde, por exemplo, o "A", nada mais é, senão," Área", e não "Amor". "X" é "X" e pronto. "D" é apenas o "Diâmetro e não," Desafeto". E, "T" não é "Tristeza" e, sim, o Total de uma operação qualquer. Para todos os problemas na matemática encontramos solução.

Já para os problemas na área de humanas, nem sempre, temos respostas exatas.. Podemos até, arriscar uma tentativa de embaralhar as letrinhas e escrever em um idioma diferente, mas mesmo assim, o resultado pode ser enganoso. Há certas expressões que pegam mal quando traduzimos ao "pé da letra", ficam incompletas. Tenho pensado, mesmo, seriamente, em migrar para a frieza dos números, onde quantidade está longe de ser qualidade. No mundo dos números é proibido sonhar. Tudo é sempre friamente calculado. Pode parecer uma escolha vazia tal qual um conjunto sem elementos mas, pelo menos, existe uma clareza de raciocínio e não faz doer como certas poesias que são de cortar o coração. No mundo dos números o raciocínio é lógico, não há espaço para dúbia interpretação nem emoção.

No mundo das letras, quase sempre, me perco. Perco-me em infinitas combinações e interpretações. Tem sido difícil coordenar as orações e, as rimas saem atravessadas. Recuso-me a rimar paixão com traição ou, amor com dor. Não. Melhor rimar paixão com canção ou, amor com ardor. Soa tão mais bonito e verdadeiro. A frieza e exatidão dos números me assustam, mas não me machucam. A matemática, eu sei, é fascinante. São infinitos e inimagináveis cálculos. Aplicáveis, inclusive, a fenômenos da natureza. Quem de nós, por exemplo, simples mortal, olharia para um girassol e o associaria à sequência "Fibonacci"? Grandes mistérios desse maravilhoso Universo. Entretanto, apesar de toda genialidade dos números, sinto que são desprovidos de alma e sentimentos. São necessários, precisos e frios.

Quando estudante, ficava feliz quando conseguia achar o valor de "x". Raridade, confesso... Sentia-me orgulhosa de mim mesma...Mas era na mágica maestria das escritas de poetas e escritores que me deleitava...e me emocionava e, me emociono. Esses possuem minha total admiração pela capacidade de falar sério, brincando com as palavras. Sim, são magos do saber. Esses nos falam ao coração e me levam às lágrimas ou, às gargalhadas... Palavras podem ferir...e como podem...Podem fazer doer como um golpe de arma branca desferido à alma. Ou, podem, também, ir magoando, aos poucos, pela ausência, pelo silêncio, tal qual a inutilidade do "H", em alguns vocábulos. Vai, aos poucos, entristecendo feito doença crônica.. Contudo, palavras são imprescindíveis...porque sabem expressar sentimentos de alegria ou de dor. Sabem, também, quando calar. Diante de um abraço, um olhar, um carinho... inteligentemente, emudecem.

Faltando-me a audição, as devoraria com os olhos. E na falta desses, as encontraria em belas e românticas canções. Existem também, alguns blá blá blá, que nada querem dizer...são palavras vazias. Existem "palavrões" que nada significam e monossílabos de gigantesca importância, como por exemplo: Mãe, Pai, Mar, Fé, Sol, Céu, Flor, etc...

Poderíamos, por exemplo, estabelecer uma comunicação tendo como base, somente, os números? Difícil, não? É, claro, eles têm, lá, sua importância...Mas na rotina do nosso dia a dia, qual a real importância dos números? Contabilizar fortuna? Contar anos vividos e amores perdidos? Tá bom, números não são tão maus assim, podemos com eles, fazer uma contagem regressiva para a felicidade, podemos contar sorrisos, contar estrelas, contar os sonhos...

Mas o melhor mesmo, é quando números e palavras se unem em prol de um bem maior e se transformam em algo de incalculável grandeza, tal qual :

AMOR INFINITO..

Elenice Bastos.