Do Sofá pra Academia...
 
     Dia destes acordei inspirado e resolvi mudar algumas coisas em minha vida. Olhei-me no espelho e percebi que não estava gostando muito do que via. É terrível sentir-se desajeitado, um pouco gordo, meio flácido. Aliás, quem nunca se sentiu assim?

     Antes de tomar qualquer decisão, resolvi parar e pensar um pouco, pra ver se não era apenas uma “deprezinha” se instalando momentaneamente. Sabe como é, homem de 41 anos, separado, o tédio bate, e aí a tristeza assola um pouco. Mas não era nada disso. Eu realmente me olhava, me olhava, e não estava gostando definitivamente do que via.

     Relembrei de toda a minha caminhada, e dos sacrifícios que já fiz após a minha cirurgia de redução do estômago, e o quanto meu emagrecimento contribuiu para melhorar minha qualidade de vida. Com isso decidi: Academia e dieta já, pois preciso manter tudo o que conquistei!

     Sai de casa resoluto, em companhia da minha filha, uma de minhas maiores apoiadoras, e fui até a academia “Corpo e Alma”. Um pouco acanhado, assumo, pois na minha condição de eterno sedentário, é tudo muito novo pra mim, e isso assusta. Entrei, solicitei os papéis de matrícula e voltei pra casa a fim de refletir um pouco mais. Mas refletir como? Com uma menininha de 11 anos perguntando que horas iríamos começar a malhação? Não teve jeito, troquei de roupa, fiz o sinal da cruz e lá fomos nós dois para iniciar as atividades.

     O primeiro dia foi empolgante, afinal, novidade é novidade. Foram 20 km de bicicleta, em quase uma hora de aeróbica. Lembrei-me de uma piada do pintinho que não sentia mais nada depois de fumar um cigarrinho nada convencional. No meu caso, eu não sentia as pernas. Voltei pra casa em piloto automático, pensando na musculação que iniciaria no dia seguinte. Ah, expectativa é sempre um tormento. Minha noite foi estranha. Tive pesadelos. Sonhei com pesos e outros aparelhos de tortura iguais ao utilizados em academias.

     Acordei cedo, respirei fundo, tomei café preto e um pedaço de queijo sem gosto. Afinal, queijo branco serve pra que? Aquela massa branca sem sal que a gente mastiga e engole. Sei que faz bem, mas por que tudo que não presta é realmente mais gostoso? Por exemplo, uma maçã não poderia ter o gosto de um brigadeiro? Mas não! Tem aquele gosto de maçã.

     Lembrei-me de uma matéria que lera há alguns dias sobre trocar hábitos ruins por hábitos bons. Hummm, difícil hein? Principalmente numa época tão corrida, tão agitada, em que fast food é uma constante em nossa vida. Dessa forma, é muito mais fácil fazer lanchinhos rápidos, gordurosos, deliciosos, altamente calóricos e sem nenhum valor nutricional que nos levam a um “entoucinhamento” (neologismo usado pra dizer que nos torna gordos como suínos).

     Mas voltando, troquei de roupa e lá fui eu para a primeira sessão de musculação. Meu orientador, o Leo, fora meu aluno em 1996/97. Pensei comigo: “Agora ele se vinga!”. Mas não! Menino bom, solidário, excelente orientador, paciente, e me fez lembrar uma passagem muito legal quando eu era seu professor: Eu estava corrigindo algumas provas e ele observando, sentado numa carteira à minha frente. De repente, viu uma das provas onde estava escrito “Gabarito”. Imediatamente perguntou: “- Professor, quem é esse tal de Gabarito?”. Olhei-o surpreso e apenas respondi: “-Ah, é um aluno do terceiro colegial que vai muito bem em todas as provas!”, dando uma gargalhada na sequência. Ele riu também e na hora não entendeu nada.

     Ao lembrar-me dessa passagem enquanto me orientava num exercício para fortalecer a panturrilha, minha mente viajou no tempo novamente. Olhei ao meu redor e observei que a maioria daqueles jovens à minha volta tinham sido meus alunos. Jovens saudáveis, de bem com a vida, boas famílias, com a energia da juventude e disposição suficiente para se cuidar. Observei atentamente o jovem Guido Moreira, menino bom, que também foi meu aluno e que todos os dias está lá, malhando. Lembro-me perfeitamente de uma aula em que esse jovem deu um verdadeiro show, numa explicação para toda a sala. Era uma sexta série simplesmente maravilhosa e eu, orgulhoso e embasbacado, como professor entusiasta que sempre fui, aplaudi com gosto!

     É, eu estava muito feliz, mesmo começando a não sentir mais as pernas nesse momento. Meu Deus, como posso ser tão mole? Aquela galera toda, durinha, focada, e eu ali sofrendo horrores! Mas sou brasileiro, e não desisto nunca. Jamais!

     Em síntese, saí dali moído! Não sentia mais braços, pernas, tronco, absolutamente nada! Parecia que um trator esteira havia passado sobre mim duas vezes consecutivas. Nada parecia funcionar direito. Não conseguia levantar os braços, esticar as pernas... Definitivamente eu fora retirado da minha zona de conforto, e isso nem sempre ocorre sem traumas.

     Bom, o fato é que depois de duas semanas, percebi que deveria ter iniciado tudo isso há muito mais tempo. Afinal, depois dos 40, cuidar da saúde deixa de ser uma opção, e torna-se uma necessidade. Assim, resolvi escrever esse artigo especialmente pra você que acha que a vida é ficar em frente à TV com uma bela cerveja gelada e um prato de salgadinhos. Saúde é coisa séria! E uma boa malhação é garantia de disposição diária e muitas risadas!