A sensível diferença...

     O Bullyng está mais presente em nossa vida do que imaginamos. Às vezes, precisamos apenas de um olhar mais atento para conseguir vislumbrar a realidade e fazer a diferença. Essa é uma história sobre um momento na vida que pode significar um recomeço.

     João era um menino alegre, de bem com vida, cheio de energia. Seus problemas sempre tinham alguma solução, e sua principal qualidade era a de responder com muito entusiasmo aos cumprimentos que recebia todos os dias, quando saia de casa para a escola e, na parte da tarde, para o trabalho na padaria, onde ajudava seu pai e seus irmãos maiores a produzir diariamente deliciosos pães e confeitos, que conquistaram o respeito e o paladar de toda a cidade.

     Quando chegava na escola, ia logo recebendo os cumprimentos dos colegas, o sorriso jovial da professora, o aceno sempre alegre do Seo Manoel, o tiozinho do portão, que zelava pela segurança dos alunos, e mantinha-os longe das garras afiadas de traficantes que buscavam jovens para trabalharem como “aviõezinhos” dentro da escola. Orgulhoso pelo seu trabalho, Seo Manoel sempre dizia: “-Aqui traficante e bandido não tem vez!”.

     João era um bom aluno, tirava boas notas e não faltava nenhum dia na aula. A professora sempre o elogiava, e cada elogio era recebido com um sorriso de agradecimento pelos pais, sempre atenciosos e participativos. Mas João também tinha seu lado moleque, e um dia acabou indo parar na diretoria por ter ajudado a esconder o material de um colega. Neste dia, seus pais lhe deram uma bronca que ele nunca mais esqueceu e, pelo visto, o fez aprender a lição.

     Um dia, apareceu um aluno novo na escola de João, chamado Henrique, que vinha expulso de outra escola por brigas e mau comportamento em sala de aula. Assim que chegou à escola, logo percebeu aquele menino franzino que ficava rodeado de amigos na hora do intervalo, brincando e dando muita risada. Resolveu se aproximar do grupo, mas como sua fama o precedia, acabou não sendo bem recebido. Todos lhe viraram as costas, inclusive João, que apenas o observava todo o intervalo solitário num canto do pátio.

     Seo Manoel, com seus muitos anos de experiência, logo percebeu que alguma coisa deveria ser feita, pois os meninos já começavam a zombar e afrontar Henrique, que ouvia a tudo sem falar nada, talvez com medo de mais uma expulsão. Numa ocasião, viu João dando risada enquanto outro aluno ridicularizava Henrique e, chegando perto do grupo, falou: “-Ah, que bom seria se todos vocês fossem diferentes!”.

     Os meninos, inclusive João, pararam subitamente e olharam para aquele senhor, que com ar de reprovação mirava cada um deles. João então falou: “-Mas nós somos diferentes! Ninguém aqui é igual!”. Seo Manoel sorriu, abraçou Henrique e respondeu: “-Se vocês fossem diferentes, não fariam com Henrique a mesma coisa que ele fez com outros na escola onde estudava antes!”.

     Todos se calaram, olhando uns para os outros. Subitamente, João colocou as mãos sobre as rodas da sua cadeira e foi até Henrique, estendendo-lhe as mãos! Selava-se um pacto, onde diferentes passaram a ser iguais.